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Dácio Campos explica bordões malucos no tênis: Aprendi nos EUA

UOL Esporte

16/09/2014 06h00

Leão da Montanha, Comedor de Fígado, Touro Miúra. Qualquer pessoa que já assistiu a uma partida de tênis no SporTV já se deparou com estes apelidos. O criador deles é Dácio Campos. Ex-jogador e comentarista do canal pago há 20 anos, o paulista de 50 anos é uma figurinha carimbada no mundo do tênis. Apesar de seu prestígio, não se considera uma personalidade.

Em poucas palavras, Dácio, que jogou tênis profissional por dez anos e obteve como lugar mais alto no ranking o 107º, resume seu papel e seu espírito nas transmissões.

"Meu objetivo é trazer o tênis para o nível do torcedor comum, para aqueles que também não são fanáticos pela modalidade. Trabalho para entreter, levar alegria às pessoas. Temos muitas pessoas das classes C e D entre nossos telespectadores", disse em entrevista ao UOL Esporte.

Mas de onde vem a ideia para tantos apelidos? Segundo o comentarista, ele aprendeu isso durante o tempo que viveu nos Estados Unidos e estudou na Universidade de Houston.

"Lá, muitas faculdades tem como apelidos os nomes de animais. Isso é algo que aproxima o esporte do público. Hoje, aqui no Brasil, muita gente na padaria, taxistas me param para falar do leão da montanha, do touro", contou o comentarista.

E ele mesmo faz questão de explicar os apelidos.

"Chamo o Federer de Leão da Montanha, pois lá em Houston, perto da minha universidade tinha uma jaula com o cougar (leão da montanha). É um animal que tem uma ótima movimentação e índice de acerto. É o felino mais preciso no ataque à presa. E o Federer é muito semelhante a este animal dentro de quadra", disse Dácio.

"Gosto de chamar o Djokovic de Comedor de Fígado, porque ele é um cara que não quer dar chance ao outro, realmente finaliza o rival sem piedade. O Nadal é o touro, porque é muito forte. O Tsonga, eu digo que é o Pantera Negra, pois ele é negro e parece uma pantera, um animal lindo", completou.

Vibrante nas transmissões, Dácio diz que não tem nenhum ritual especial antes de entrar no ar e se contenta em comentar na TV fechada. Para ele, fazer tênis em TV aberta seria um "devaneio".

Veja os melhores momentos da entrevista:

UOL Esporte: Você se considera uma personalidade do tênis brasileiro?
Dácio Campos: Não me considero uma personalidade. Tenho uma profissão como a sua. Cubro o esporte na mídia. Comecei há 20 anos como comentarista. Sempre gostei de televisão, gosto de tênis e gosto de falar. Isso acabou virando profissão. Mas o SporTV é mais importante do que eu. Não sou uma personalidade, sou mais uma pessoa querendo propagar o tênis. São 20 anos de SporTV. Eu e SporTV começamos juntos com o tênis. Era bem insípido no começo e hoje temos a maior propriedade de tênis do Brasil.

UOL Esporte: Como comentarista, você acabou indo para mais Copa Davis e Grand Slams do que quando era jogador, não?
Dácio Campos: Com certeza. Minha carreira é maior como comentarista do que como profissional de tênis. São 20 anos contra dez. Como comentarista, você pode trabalhar por mais tempo. Para tenista, fica difícil de seguir jogando depois dos 30 anos. É um esporte que machuca muito.

UOL Esporte: Hoje, você é muito mais conhecido por ser comentarista do que como um ex-jogador?
Dácio Campos: Com certeza. A grande maioria não sabe que joguei tênis, mesmo porque o tênis era muito pouco difundido. Na época, não tinha TV a cabo. Muita gente me pergunta se eu joguei tênis.

UOL Esporte: Você acha que o tênis teria espaço na TV aberta? Tem desejo de comentar uma partida na TV aberta?
Dácio Campos: Posso dizer que gostaria, mas eu acho muito difícil. O produto tênis é bem difícil para a TV aberta, pois você não tem garantia que um determinado jogador estará na final. É diferente, por exemplo, da Fórmula-1 que sempre tem o Massa lá, antes era o Rubinho. O brasileiro é torcedor, e não espectador. Então precisa ter um brasileiro lá. Tênis cabe perfeitamente na TV fechada. Qualquer ambição maior não seria sonho e sim um devaneio.

UOL Esporte: Na semana passada, você comentou uma final de Aberto dos Estados Unidos com dois jogadores pouco conhecidos em ação, Kei Nishikori e Marin Cilic. Ficou um pouco frustrado?
Dácio Campos: Eu achei legal, porque mudaram os protagonistas. O Cilic matou o (Tomas) Berdych, o (Roger) Federer e o Nishikori. Mostrou ótima atitude e tênis de altíssimo nível.

UOL Esporte: Você tem algum ritual especial de preparação para as transmissões?
Dácio Campos: Não, tênis é difícil se preparar porque é modalidade que você não sabe se vai demorar meia hora ou cinco horas. De repente, é bom ter duas, três e informações e ter cuidado para jogar. Se sair dando todas as informações de cara, posso ficar sem informação. Como passamos muitas horas no ar, cerca de seis a sete por dia, é muito tempo para falar. Estou com o Eusébio (Rezende, narrador) há 16 anos. Somos uma dupla afi nada, estamos entrosados e temos noção de timing muito importante.

UOL Esporte: Você se empolga muito com o Federer nas transmissões. Você por por ele? É federista?
Dácio Campos: Gosto mais do Federer porque gosto mais do tênis dele do que do dos demais jogadores. Me chama muita atenção e éo que mais me impressiona. Mas sou fão do Nadal, do Djokovic, do Murray. Torço para todos, mas o Federer é o que me deixa mais emocionado. Mas torcer para valer, só pelo Palmeiras.

UOL Esporte: E na Copa Davis? Vira um torcedor?
Dácio Campos: Aí eu torço. Já joguei, estive lá e sei o que torneio representa. O SporTV é um canal genuinamente brasileiro. Temos mania de cobrir o Brasil. Está no nosso DNA, estamos há 18 anos fazendo Davis. É o momento que viro torcedor-comentarista.

UOL Esporte: Ao longo destes 20 anos, qual foi o momento mais emocionante? E o mais triste?
Dácio Campos: O momento mais emocionante foi quando o Guga ganhou a Masters Cup em Portugal, em 200o. Ele ainda se tornou número 1 do mundo. Foi algo fora do comum.
Os tristes são as derrotas de Davis. Cito como exemplo a derrota do Marcos Daniel para o Nicolás Lapentti em Porto Alegre em 2009. Ali, fiquei triste de montão. Ele jogou demais. Fiquei triste pelo Brasil e triste por ele. Não conhecia o Marcos muito bem, mas durante a semana liguei para ele e o parabenizei.

UOL Esporte:  Já cometeu muitas gafes?
Dácio Campos: Nunca falei palavrão, nunca falei mal de ninguém e nunca me pronunciei pessoalmente. Não tem nada a ver usar o microfone para lavar roupa suja. É covardia. A opinião pública não tem nada a ver com meus problemas.

Fábio Aleixo
Do UOL, em São Paulo

 

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