"Futebol e Criança" recorre à fórmula de Silvio Santos, mas escorrega e bate na trave
Ricardo Zanei, em São Paulo
Carolina Galan, apresentadora do "Futebol e Criança" – Foto: Reprodução de TV
O "Oi, criançaaaada!!!", usado por Carolina Galan, lembra o bordão "Alô, criançada", que abria os programas do Bozo nos anos 80 e 90. Foi com a expressão animada que a apresentadora começou a edição deste domingo (11/03) do "Futebol e Criança". Imagine um misto de quadros de sucesso de Silvio Santos e dos programas infantis que fizeram a fama de Xuxa, Angélia e cia. É esse o jeitão do game show dedicado ao público infanto-juvenil e veiculado pela Rede Vida, em parceria com a FPF (Federação Paulista de Futebol).
As referências estão todas ali. São dois times, representados por escolas – alguém se lembra do lendário "Domingo no Parque"? O jogo de perguntas e respostas futebolísticas tem o nome de "Responde, Rebate ou Chuta", versão moderna do "Passa ou Repassa". O quadro "Segura Goleirão" é tradicional em parques de diversão: ganha quem chutar a bola entre as mãos de um goleiro fixo. Já o decote generoso e a saia curta de Carol Galan remetem aos modelitos usados por tantas apresentadoras de programas infantis.
Evair, Walter Júnior e Carol Galan (à esq.); mascote do Palmeiras – Foto: Reprodução de TV
Está aí uma fórmula de sucesso? Mais ou menos. A receita pode ser boa, mas a roupagem parece antiga, quase ultrapassada, lembrando um time novo com um uniforme surrado.
No "Responde, Rebate ou Chuta", as perguntas transitam entre o óbvio, o educacional e a cultura de enciclopédia. O óbvio: quais as cores da Portuguesa?, que rendeu a inesperada resposta "vinho, verde e branco". O educacional: qual é a função do jogador que usa a braçadeira? A pegadinha cultural: que país nasceu Valdívia, do Palmeiras? "Chile", disse o garoto, para ouvir um "resposta errada" e aprender que o meia nasceu na Venezuela, mas é naturalizado chileno.A parte jornalística ficou a cargo da longa reportagem contando a história de Walter Júnior, 18 anos, goleiro do Palmeiras B. Curioso é que a Rede Vida, em seu site, adiantou que o programa teria como destaque "a comovente história do goleiro", "que ficou a temporada de 2011 inteira sem jogar devido a uma grave lesão na mão". A matéria contou detalhes da trajetória de mais uma promessa alviverde, mas a lesão não foi citada.
Em seguida, Walter Júnior foi entrevistado nos estúdios, ao lado do ex-atacante Evair. Faltou, ali, cuidado maior por parte da produção, já que o goleiro não parou de mascar o seu chiclete enquanto respondia as perguntas de Carol ou ouvia os ensinamentos de Evair. Bola fora.
No fim, a decisão foi para os pênaltis, em mais uma referência aos anos 80: para os mais "antigos", a lembrança do goleiro Mallandrovsky, personagem de Sergio Mallandro na "Oradukapeta", é quase óbvia. Melhor para o goleirão da escola Pérola Byington, de Americanópolis, que fez a defesa decisiva e garantiu a vitória. O juiz, ou melhor, Carol apita, e é fim de jogo para "Futebol e Criança": uma iniciativa louvável e um time esforçado, mas sem ritmo de jogo. Talvez uma bola na trave, mas longe de ser um golaço.
"Futebol e Criança" acaba nos pênaltis – Foto: Reprodução de TV
"Futebol e Criança"
Onde: Rede Vida
Quando: todos os domingos, às 14h
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