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Para se firmar, Super Bowl chega à TV aberta e fechada de olho em iniciantes e iniciados

UOL Esporte

03/02/2012 06h00

Ricardo Zanei, em São Paulo

Foto: CJ Gunther/EFE

Horas e mais horas de estudo. Estatísticas, números, histórias. Noites de insônia preenchidas com jogos históricos. Sábados e domingos, idem. Vestibular? Nada disso. Assim tem sido a preparação de Everaldo Marques e Paulo Antunes, da ESPN, e André Henning, do Esporte Interativo, para a transmissão do Super Bowl. Não sabe o que é? Se trata da final do futebol americano, um dos maiores eventos esportivos do planeta. A partida, entre New York Giants e New England Patriots, acontece neste domingo, às 21h (horário de Brasília), com direito a show da cantora Madonna – talvez sua despedida dos palcos – no intervalo e cobertura ao vivo das duas emissoras.

Acima, Everaldo Marques (e) e Paulo Antunes, da ESPN; abaixo, André Henning e Vitor Sergio, do Esporte Interativo

Acima, Everaldo Marques (à esq.) e Paulo Antunes, da ESPN, nos EUA; abaixo, André Henning (à esq.) e Vitor Sergio Rodrigues, do Esporte Interativo

Voz da ESPN quando o assunto é NFL, Everaldo tem se preparado para a decisão desde a definição dos finalistas. "Desde a semana passada, estou lendo os jornais locais, tanto de Boston como de Nova York, além dos de Indianápolis, sede da final, e os principais portais", afirmou. "Tenho a coleção dos DVDs com todos os Super Bowls. Essa madrugada [de segunda para terça], estava com insônia e fiquei assistindo aos Giants x Patriots, para dar uma relembrada."

Mesmo com a dedicação, Everaldo pensa que, pela quantidade de informação, a cobertura de um Super Bowl chega a ser mais fácil do que a de um jogo comum. "O Super Bowl é o jogo que dá menos trabalho para acompanhar porque a gente assistiu aos times durante toda a temporada. É mais fácil se preparar para um jogo bom do que para um jogo ruim. Em um jogo ruim, tem que ficar encontrando história."

A ESPN terá nove enviados aos EUA, entre equipe técnica e jornalistas. Para Paulo Antunes, a preparação para o Super Bowl é mais difícil graças ao volume de trabalho antes da final. "O problema é você sentar e se concentrar na transmissão. Aqui, a cabine é climatizada, confortável. Lá é cadeira de plástico, tem vento na cara, a mesa é pequena. É bem mais difícil fazer no estádio do que aqui. Outro problema é que você está na pilha de fazer tanta coisa para rádio, blog, TV, e acaba não tendo essa mesma rotina de estudo. O tempo passa muito rápido. Tanto que já imprimi um monte de coisa que eu vou aproveitar para estudar no avião", afirmou.

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André Henning também tem feito a "lição de casa" para fazer uma grande transmissão. "Ficamos sabendo que íamos fazer o Super Bowl há uns dois meses e, desde o fim da temporada regular, passei a ver todos os jogos. Confesso que eu não estava acompanhando, não é o meu esporte, mas passei a ver tudo com um olhar diferente. Teve fim de semana que eu fiquei mais de 8h seguidas vendo jogos. Essa semana começa o mais pesado, que é ler todos os jornais de lá, ver programas, matérias, fuçar com um pouco mais de cuidado", falou o narrador, que terá a companhia de Vitor Sergio Rodrigues e Raphael Martins, técnico de futebol americano no Rio, na transmissão.

Curiosamente, se o Super Bowl volta à TV aberta, a partida marcará a estreia de Henning como narrador de um jogo de futebol americano. "É uma adrenalina diferente. Fizemos uns pilotos, e a transmissão será em um estúdio novo. Vai ser diferente", disse. "Hoje, a audiência esportiva da TV, de forma geral, é muito exigente. Todo mundo tem opinião, e a gente vive sob pressão. Agora, é mais pressão ainda. Não sabemos como as pessoas vão reagir e como vai ser meu desempenho. Posso achar que narrei bem, mas o que vale é o que as pessoas pensam. Eu me preocupo em fazer uma transmissão que seja agradável."

Foto: Ray Stubblebine/Reuters

Linguagem e aceitação

O futebol americano vem crescendo no Brasil, mas está longe de ser um esporte massificado. Assim, o trabalho para traduzir as regras e peculiaridades de uma modalidade que ainda ganha adeptos por aqui se torna redobrado nas transmissões.

"No futebol, não preciso me preocupar se o cara que está em casa vai entender o que está acontecendo no jogo. Nesses outros esportes, não tão populares, me preocupo em me colocar na cadeira no telespectador. Tem muita gente que assiste ao futebol americano há muito tempo, mas sempre tem um público novo, sempre tem uma pessoa que está vendo pela primeira vez, e ninguém vai gostar de uma coisa que não entende. O objetivo é mesclar a coisa mais básica, suficiente para que o telespectador volte a assistir, com uma análise um pouco mais profunda, para o cara que já é iniciado", disse Everaldo.

Henning concorda que o grande desafio é fazer com que o público compreenda o futebol americano. "É um baita evento esportivo, é um dos maiores eventos fixos do ano, ao lado da Liga dos Campeões. Vamos partir do pressuposto que o telespectador não sabe e vamos explicar de uma maneira legal, mas não podemos esquecer do cara que sabe um pouco mais, que acompanha na ESPN. Mas não vai ser uma aula, se não fica chato", disse. "Tem uma galera que viu na Bandeirantes, nos anos 90, e que vai ver agora, pela segunda vez. Mas tem toda uma geração aí que nunca viu na TV aberta, vai ver pela primeira vez e acho que vai gostar."

Entrosamento e humor

Além das explicações técnicas e de uma preparação especial para cada jogo, as transmissões da ESPN são sempre marcadas pelo humor, o que vai se repetir no Super Bowl.

"A linha entre ser engraçado e ser ridículo é muito tênue", disse Everaldo. "A gente sempre coloca o jogo na frente, é mais importante do que tudo, do que ler comentário, do que chamar a grade de programação, do que pontuar com algum desses assuntos de fora de campo. Quando dá uma brecha, a gente pontua e, se tem algo engraçado para dizer, acaba saindo. É muito espontâneo, é totalmente de improviso e aí vai da reação do outro."

Everaldo e Antunes trabalham juntos desde março de 2006 nas transmissões de beisebol e futebol americano. Os quase seis anos de convivência contribuem para o bom entrosamento da dupla, que contará com o apoio do repórter André Kfouri nos EUA. "A gente se complementa muito bem. Temos muita bagagem, mas também uma veia humorística", disse Antunes. "Sempre me concentro no jogo. Se a gente pensasse só nas piadas, seríamos dois palhaços. Esporte é entretenimento, e o jogo, às vezes, é engraçado. Tem gente que quer saber dos detalhes dos números, mas tem gente que quer se divertir."

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O tempo de convivência também é um ponto a favor de André. Ele foi a voz da primeira transmissão de futebol do Esporte Interativo, há cinco anos, tendo justamente Vitor Sergio como comentarista. "Eu e o Vitor Sergio trabalhamos em dois, três jogos por semana há cinco anos. Ele tem o hábito de ver futebol americano, é completamente fanático". A dupla, também bem-humorada, terá, no Super Bowl, a companhia de Raphael Martins. "Ele é técnico, já jogou e será o nosso apoio, a nossa sustentação para regras e dúvidas. Será o especialista da transmissão."

O Super Bowl é o principal evento esportivo dos EUA, reúne milhões de espectadores e movimenta bilhões de dólares. No Brasil, depois de muitos anos, o espectador, iniciante ou iniciado no futebol americano, poderá acompanhar a partida na TV aberta e fechada. Não se sabe quem vai ganhar, mas uma coisa é fato: a transmissão da bola oval será bem "à brasileira". "Vamos tocar o barco, vamos fazer o que a gente faz sempre faz", finalizou André. E, como diria Paulo Antunes, "chega!".

Super Bowl: New York Giants x New England Patriots

Quando: domingo, 05/02/12

Onde: Esporte Interativo e ESPN, às 21h (horário de Brasília)

Sobre o Blog

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