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Shaq estreia como comentarista e acerta mesclando análises táticas com humor pastelão

UOL Esporte

15/01/2012 14h00

Por Ricardo Zanei


Crédito da imagem: Reprodução 

A TNT surpreendeu e acertou ao contratar Shaquille O'Neal como comentarista de basquete. O ex-pivô estreou efetivamente na emissora no dia 25 de dezembro e caiu como uma luva nos bem-humorados programas "NBA On TNT" ou "Inside The NBA", ao lado dos também ex-jogadores Charles Barkley e Kenny Smith e sob o comando de Ernie Johnson Jr, também conhecido como "E.J.".

Shaq tem uma característica das mais importantes para quem trabalha em TV: carisma. Ele atuou por seis times (Magic, Lakers, Heat, Cavaliers, Suns e Celtics), mas é querido por todo os EUA. Isso aumenta ainda mais a sua liberdade como comentarista e dá ao ex-pivô o aval para mesclar análises táticas com uma dose de humor pastelão sem cair no ridículo.

Foram quase seis meses entre o anúncio da contratação de Shaq pela TNT, em 14 de julho, e sua estreia de fato, no Dia de Natal. A demora se deu pela greve na NBA, mas o público passou a ter uma amostra de como seria o novo comentarista durante o mês de dezembro, quando uma série de comerciais, todos apostando na sátira, foram ao ar. A saber:

– clipe no melhor estilo Motown, tendo o ex-pivô como estrela
– entrada triunfal em um suposto programa de estreia, com direito a cheerleaders e papel picado
chegada destruidora no estacionamento da TNT, simplesmente atropelando com uma picape Monster o carro de Barkley e Smith
– ajuda de Barkley, curiosamente nos lances livres, para ele se acostumar com a aposentadoria
edição divertida da briga em quadra entre Shaq e Barkley, que vê sua cabeça sair voando

A mistura de estilos dos integrantes da TNT é curiosa. Barkley é o furacão na bancada, aquele cara que pode sorrir com o que você diz e, segundos depois, destruir a sua opinião. Smith, ex-armador, faz o meio-campo. E.J. é quem comanda, mas não deixa de ser um piadista de mão cheia. E Shaq complementou o time trazendo um pouco de sarcasmo.

Quando o assunto é jogo, é curioso ver aquele gigante de 2,16 m e quase 150 kg (ou mais) se mostrar o mais tímido, falando baixinho. Shaq se solta quando comenta sobre os pivôs, a sua área. E, mesmo sem levantar a voz nas acaloradas discussões, é quem sai com tiradas que tornam o clima mais ameno.


Crédito da imagem: Reprodução

Quando o papo é basquete
O cenário da TNT conta com uma miniquadra, na qual os apresentadores podem ilustrar o que estão falando. Dia desses, o assunto era a movimentação de ataque dos Lakers. Shaq analisou Andrew Bynun, imitando a movimentação do jogador no ataque. "O que a maioria dos grandalhões faz é entrar no garrafão pensando em bloquear seu marcador, aí ele sofre o contato e acaba mais distante da cesta, fazendo com que a sua porcentagem de acerto de arremessos caia. Mas Bynun vai para o centro do garrafão, isso aumenta as suas chances de acertar um arremesso."

Em outro programa, ele e Smith apontaram os favoritos de cada conferência para chegar aos playoffs. Já Barkley se recusou a palpitar: "como podemos escolher times se mal vimos esses caras jogarem? Eu quero ver esses times jogarem algumas semanas antes de falar qualquer coisa". "Não fique bravo com a gente se você não fez o seu dever de casa", brincou Shaq, antes de apontar os Mavericks e os Lakers como os favoritos do Oeste.

A hora de brincar
O mesmo Shaq que analisa Bynun nos Lakers, ou o poderio ofensivo de Dwight Howard, ou ainda aponta os Celtics como o time mais forte do Leste é capaz de atrapalhar deliberadamente a opinião de Barkley. O assunto era outro pivô da NBA, Javale McGee, dos Wizards, e Shaq imitou a voz do amigo para interrompê-lo diversas vezes. "Javale McGee! Eu gosto dele. Eu gosto dele. Javale McGee! Eu amo Javale McGee. Javale McGee!", disse.

O novo comentarista ainda criou um novo termo. Durante um jogo, em um arremesso certeiro, ele gritou: "Yak-Yak!". Ao ser perguntado o que era aquele barulho, explicou: "É o barulho da bola quando acerta a rede. Quando você joga contra grandes jogadores… Quando enfrentava Sacramento, quando Stojakovic arremessava, eu juro para você que a bola fazia 'yak-yak' ao acertar a cesta."


A hora de brincar muito

A TNT deu liberdade para que Shaq aparecesse ainda mais em seus primeiros dias no ar. Assim, o superpivô foi responsável por momentos dignos de programas humorísticos, no melhor estilo pastelão, como:

foi literalmente atingido por uma árvore de Natal
fez suas previsões para 2012, todas baseadas no humor, trajado como uma espécie de mago, o "Shaq-Stradamus"
– em cena semelhante aos combates do WWE, bateu em E.J. para obter as respostas do quadro "Who he played for" ("Onde ele jogou"); como troco, teve uma cadeira quebrada nas costas e ainda levou uma garrafada na cabeça

Lá e cá
Claro que a contratação de Shaq tem propósitos comerciais, e é óbvio que um cara como ele, um dos melhores pivôs da história, chama a atenção da audiência. Assim como também não dá para negar que ele só faz isso porque tem carisma, sabe do que está falando e é capaz de entreter sem parecer ridículo.

No Brasil, não há nenhum comentarista com o mesmo perfil de Shaq e tendo a acreditar que não há nenhum pensamento ou tentativa nesse sentido. Claro que existem analistas e programas bem-humorados, mas nenhum chega no patamar já imposto pelo superpivô.

Se o assunto for a comparação entre ex-jogadores que se tornaram comentaristas, a distância entre Shaq e os brasileiros aumenta ainda mais. Não há ninguém no país que tenha, digamos, a "cara de pau" de se arriscar como Shaq faz sem manchar a sua reputação.

Em pouco tempo, Shaq deu uma cara diferente para o debate de basquete na TNT. Quanto tempo isso vai durar? Será que um dia o formato não vai ficar chato, cansativo, repetitivo? Será que as piadinhas não se tornarão ridículas no futuro? São perguntas sem resposta. Mas a primeira impressão de Shaq como comentarista é das mais positivas. E divertidas.

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