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Comentarista de tênis revela como disfarça jogo ruim na TV

UOL Esporte

31/05/2011 07h00

Foto: Mastrangelo Reino/Folha Imagem

 

Por Rubens Lisboa

Ex-tenista número 82 de duplas e 107 de simples, Dácio Campos trabalha como comentarista do Sportv desde o início da emissora e proporciona momentos curiosos durante as partidas, como os jargões "Não faz assim, Federer!" e "Para, Nadal!".

Bem-humorado, Dácio afirma que seu desafio na TV é tentar fazer comentários sem usar termos muito específicos e em inglês, além de buscar artimanhas para compensar quando o jogo não é de muita qualidade. "Não pode ter jogo ruim", afirma em entrevista ao UOL Esporte. Confira abaixo:

Comentários didáticos
"O jogo do Bellucci [contra Novak Djokovic em Madrid] tinha mais de um milhão de pessoas vendo. E a gente tem um publico de tênis de aproximadamente 300 mil pessoas. Então essas 700 mil pessoas são as nossas mães, são as pessoas que estão vendo um brasileiro que poderia estar lutando boxe ou jogando tênis. Então nesse momento em que a enorme maioria das pessoas que estão ali vendo, se eu não for didático, ela muda".

Artimanhas para manter o público
"Se não entendesse de tênis, eu seria um idiota, porque eu só fiz isso a vida inteira. Só que de televisão é outra coisa, então a Rede Globo e o Sportv sempre me deram um coaching, uma educação em relação a como colocar meu conhecimento de tênis num canhão que é um negocio chamado televisão que vai para todo mundo. Isso aí acabou um ajudando a me comunicar  sobre uma modalidade meticulosa, difícil, cheia de termos. Mas eu nunca falo termo em inglês, evito o máximo tratar de temas que sejam muito profundos, porque mesmo quando não tem um brasileiro jogando, 80% das pessoas são pessoas normais que estão assistindo um jogo".

Contato com o público
"O meu objetivo sempre foi atrair gente não do meio do tênis para a modalidade, para que eles possam indicar para os seus filhos, seus netos, seus sobrinhos etc. Eu sempre me preocupei muito em não falar para o público do tênis, porque esse já é meu público".

Criação dos jargões
"Eu sou assim, para isso eu não estudo. Isso vem naturalmente. 'Não faz assim, Federer', acho que são coisas que eu falo no cotidiano para as minhas filhas, ou para um amigo. São coisas que eu falo normalmente, é o jeito de eu ser mesmo, aí não é a televisão que me ensinou".

Partidas ruins
"Tem jogos muito bons e tem jogos muito bons também. Não pode ter jogo ruim. Eu não posso dizer para quem está me ouvindo que o jogo é ruim".

Como disfarçar o jogo ruim
"Aí é que começa o trabalho, porque fazer jogo bom é que nem namorar mulher bonita. Namorar mulher bonita é fácil. O segredo é conseguir pegar alguma coisa que não esteja tão agradável naquele momento e levar o cara que está assistindo para ver alguma coisa ali que compense uma eventual falta de graça daquele jogo. Agora, não dá para falar 'aquele cara é um perna-de-pau', como eu ouço. Porque aí é como eu dizer assim: 'olha, isso aí que você está vendo é uma porcaria'. Mas a minha emissora não mostra porcaria, a gente só mostra coisa boa. E quando não está tão boa o meu trabalho é fazer ficar boa, pelo menos. Não é que eu vou mentir, eu vou procurar alguma coisa interessante se o jogo não está. Vou dar uma informação do lugar, ou alguma coisa religiosa, ou alguma coisa do futebol… Fazer com que aquilo possa ser interessante, porque eu jamais denegriria um evento da emissora que eu trabalho".

Início na TV
"Há 17 anos eu comecei a comentar em Londres. A gente jogava tênis, jogava Wimbledon e ficava 40 dias por ano em Londres. Numa dessas, eu tinha 24 anos e enchia o saco de ficar ali e defini que iria na TV Globo fazer uma matéria. Apostei com meus amigos, peguei o metrô, toquei a campainha, o cara abriu a porta e eu falei 'acho que eu tenho uma matéria aí para vocês'. Não tinha nada acontecendo na hora, estava o Bial jogando dominó, o Dornelles e todo mundo parado. E aí o cara falou, 'faz o seguinte, pega esse garoto aí e fica uma semana com ele'. Aí fiquei com o Carlos Dornelles, o Orlando, cinegrafista, e a gente fez uma matéria que deu 8 minutos no Fantástico. Nós fizemos dentro de Wimbledon, dentro do vestiário, na casa do Brasil. Enfim, os brasileiros e Wimbledon. E esse cara que abriu a porta é filho do Armando Nogueira. Ele se tornou meu amigo, aí joguei mais 6 anos de tênis e ele veio para o Rio de Janeiro porque estava sendo montado um monstrinho chamado Globosat".

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