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Casagrande vê Neymar egoísta e aponta falta de "química" com Cavani

UOL Esporte

15/02/2018 11h41

Reprodução/SporTV

Para o comentarista da Rede Globo, Walter Casagrande, Neymar é demasiadamente individualista e não combina com o companheiro de ataque do Paris Saint-Germain, o uruguaio Edinson Cavani. "É excessivamente egoísta", definiu, durante participação no "Redação SporTV" desta quinta-feira em um comentário sobre a derrota do PSG por 3 a 1 para o Real Madrid, pelas oitavas da Liga dos Campeões .

"Eu joguei, fiz dupla de área com dois caras espetaculares, e funcionou maravilhosamente bem: no Corinthians, jogava com a (camisa) 9, e o Sócrates com a 8. Fui para o São Paulo, eu jogava com a 8, e o Careca com a 9. Se pegar esses três jogadores, os três gostavam de fazer gols, e faziam, mesmo. E os três também sabiam jogar. Por que deu química, deu certo e nunca teve problema algum? Os dois pensavam para os dois, uma dupla. Eu não me incomodava nada quando um dos dois faziam gols no jogo e eu não fazia. Agora, no Paris Saint-Germain, o Neymar, além de ser excessivamente egoísta, só passa a bola para os outros quando vê que vai perder a bola. Não é (por boa) colocação dos outros nem nada, porque fazer uma tabela você olha para o outro cara, cria jogada e dá o passe exatamente no momento certo, para o centroavante virar e fazer o gol ou para ele correr e tabelar", observou.

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"O Cavani não é de tabelar, é finalizador, a mentalidade dele é escorar para alguém ou ele virar e fazer o gol, tem essas duas possibilidades. O Neymar quer ele fazer o gol, porque toca para o Cavani em um momento em que a única opção do Cavani é devolver para ele, não toca para o Cavani ter duas opções, para chutar ou devolver. Só que o Cavani pensa diferente. Numa jogada específica, o Neymar driblou uns três, foi para o meio, tocou para o Cavani, que foi para lá (outro lado), porque o Neymar pensou em receber a bola de volta, e o Cavani em entrar no vazio para finalizar. Então não tem entrosamento, não tem química, tem um pouco de ser premeditada a jogada. Não estou inocentando o Cavani, ele tem muita culpa nessa falta de entrosamento, mas depende do Neymar. O Cavani não é centroavante de movimentação, de habilidade, que topa tabela. O Neymar força a tabela para a bola voltar para ele, é esse o sentido do egoísmo do Neymar. Na entada da área, único passe que dá é para o cara devolver para ele. Não vai funcionar, é muito egoísmo, futebol é coletivo, é de 11", reforçou.

Casão chegou até a fazer comparações com o que ocorria com seus ex-colegas de ataque, nos tempos que jogava futebol. Ele mencionou Pelé e Maradona como exemplos de humildade e solidariedade em campo para Neymar.

"O futebol é coletivo, os times não têm que procurar um cara que tenha o perfil do Neymar. O Neymar tem que ter o perfil do time, é assim que funciona equipe de futebol. Pega o Santos, do Pelé, o jogo não era para o Pelé. O Pelé, de toda a genialidade dele, ele descia um pouco, alguns degraus para fazer parte do coletivo, não ficava parado naquele degrau que tem, forçando os outros que cheguem até ele. O Maradona, na seleção da Argentina, era a mesma coisa, apesar que ele sempre teve um time mais ou menos. A Argentina de 1986 era meia-boca, o cara ganhou a Copa. Quando ele foi para o Napoli, primeiro título, também. Depois, veio o Careca e o Alemão", recordou.

Nos tempos atuais, Casagrande, inclusive, deixou em xeque a capacidade de Neymar de ser o cara a carregar o time e decidir, colocando-o abaixo também de Messi e Cristiano Ronaldo nesse quesito. "O Neymar não é um jogador ainda que tenha a genialidade, o tamanho de um Maradona, de um Messi, do Cristiano Ronaldo, que a equipe pode ficar esperando ele resolver."

"Os brasileiros se iludem com isso e me incomoda a maioria dos torcedores e da imprensa brasileira ficar passando a mão no Neymar o tempo todo. Ele já mostrou diversas vezes comportamentos fora do coletivo, mimado, colocando em risco a equipe. Ontem, tomou um cartão amarelo no primeiro tempo. Se faz mais uma falta ou cava, o juiz punha ele pra fora e seria desastroso. Isso pode acontecer na Copa do Mundo, também", alertou.

"Eu não faço parte desse grupo", enfatizou, se dizendo longe do oba-oba em relação ao craque brasileiro. "Tem vários que não fazem parte, mas a grande maioria faz: 'Pô, o Cavani não sei o quê, contrata o Careca, pô, Neymar tem que sair do Barcelona, porque está muito nas costas do Messi. Ah, aqui o centroavante não combina com ele, vamos levar ele pra lá'. Gente, o que é isso, estamos formando o quê?", indignou-se, e fez afirmação similar à do então técnico, Renê Simões, em relação ao na época garoto Neymar, do Santos: "Tá todo mundo criando um monstro, ao invés de corrigir o monstro para ele virar gênio. Muita gente acha que pego no pé. Eu não pego, tento corrigir."

Falando sobre a vitória do Real, Casagrande disse que o resultado não foi surpresa para ele. Disse que esperava por uma vitória espanhola por um placar ainda maior e chamou atenção para os diferentes pesos das duas camisas, em sua avaliação, um aspecto relevante em jogos desse porte.

"Não me surpreendi em nada. Achava que podia ser mais porque bato numa tecla, e faz tempo. Eu joguei, na época Copa dos Campeões: a camisa e a história na Europa pesam muito. Pesam muito. Quando entra no mata-mata, numa Liga dos Campeões ou Copa Uefa [hoje, Liga Europa], Copa Itália, de cada país, e tem pela frente uma potência desse tipo, é muito difícil de ganhar, não é para qualquer um. Tem que ter no mínimo um pouco de história, não adianta contratar um monte de jogadores e pôr a camisa do Paris. Não vai virar um grande time, uma grande história e um grande peso na camisa porque contratou Neymar, Mbappé, Cavani e tudo mais. Não vai virar, a camisa do Paris continua a mesma, a história continua a mesma, e o lado de lá (Real Madrid) tem muita importância isso. O Real Madrid fala: 'Meu, os caras são bons, mas olha a história deles, olha a camisa que vão jogar, vamos pra cima"', comentou.

"Se pegar esse mesmo time do Paris e colocar na Juventus, aí é outra parada, eu discuto, dá para jogar e não tem favorito. Mas nesse jogo de ontem e no próximo [partida de volta, em 6 de março, no Parque dos Príncipes] pode ser até que o Paris vire, isso no futebol pode acontecer, mas acho muito difícil e a tendência é o Real meter mais uns três ou quatro [gols] lá, porque o Paris tem que ir pra cima para fazer dois, e [Real] tem Cristiano Ronaldo", opinou, já projetando a volta na França.

Casagrande ainda fez questão de exaltar a capacidade de fazer gols do craque português Cristiano Ronaldo. "Quando você joga contra o Real, a tática, um treinador tem que falar assim: 'Estamos perdendo de 1 a 0, não começa 0 a 0 esse jogo, porque o cara lá faz gol todo jogo, então tenho que preparar o time para ganhar de 2 a 1, de 3 a 1'. De 1 a 0 não vai ganhar, porque o cara vai fazer um gol, fez sete jogos e tem 11 gols na Liga dos Campeões", ponderou.

E minimizou o fracasso do Real em outras competições na temporada. "A Espanha o time não está bem. Aí todo mundo fala assim: 'É hora de ganhar'. Meu, o Real Madrid está pensando na Liga dos Campeões, abandonou o campeonato [espanhol]. Tudo o que pode ser eliminado, ele fez. Eliminou da Copa do Rei, está lá em quarto no campeonato, porque está focado nesse jogo da Liga dos Campeões, é o que eles querem."

O comentarista ainda aproveitou para minimizar o desafio técnico do PSG, até então, criticando o nível dos adversários que enfrentou, sobretudo no Campeonato Francês. "Pessoal se iludiu, inclusive o Paris. 'Pô, os caras estão em fase ruim, nós estamos em primeiro na França, com 14 pontos de diferença'. Jogou contra quem? Contra ninguém. Só pegou o Bayern de Munique na primeira fase [da Champions], mas como o Bayern tinha certeza que iria classificar, não fez esforço algum. Cruza o Bayern agora, para jogar mata-mata, e vai ver o que vai acontecer. Atropela", analisou.

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