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De Kobe e Curry a Rihanna: Repórter da ESPN vai para sexta final de NBA

João Victor Miranda

29/05/2019 04h00

José Renato Ambrósio é repórter da ESPN (Arquivo pessoal)

José Renato Ambrósio conhece bem a "casa". Começou como estagiário nos canais ESPN em 2008. Ganhou destaque dentro da emissora na cobertura de grandes eventos, como Jogos Olímpicos, Jogos Mundiais Militares e finais de Liga dos Campeões. Em 2013, recebeu uma grande oportunidade: cobrir in loco um dos principais produtos da empresa: as finais da NBA. De lá para cá, o jornalista já se tornou uma das "caras" da ESPN Brasil na principal liga de basquete do mundo e chega, em 2019, à sua sexta final, a quinta consecutiva. Dessa vez, cobrirá um confronto inédito nesta fase, entre Golden State Warriors e Toronto Raptors. A série começa amanhã, às 22h, e é disputada em formato melhor de sete.

Nas cinco finais que fez, José Renato viu a afirmação de LeBron James como um dos maiores jogadores da história, com a conquista de dois títulos: em 2013, pelo Miami Heat, e em 2016, pelo Cleveland Cavaliers. O repórter também presenciou a ascensão do Golden State Warriors, que já entrou no rol dos grandes times da NBA. A equipe jogará sua quinta final consecutiva esse ano. Além disso, como o próprio jornalista gosta de destacar, ele pôde acompanhar de perto a conquista de um brasileiro, com Leandrinho, pelos Warriors, em 2015, e outro quase título, o de Tiago Splitter, em 2013, pelo San Antonio Spurs.

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Uma das únicas lamentações de José Renato nesse período é não ter visto de perto o primeiro título de um brasileiro na NBA. Justamente em 2014, quando Tiago Splitter levantou o troféu com os Spurs após bater na trave em 2013, a ESPN Brasil não enviou uma equipe para cobrir in loco as finais. A decisão foi tomada por conta da Copa do Mundo daquele ano, que ganhou atenção especial da emissora por ser no Brasil.

Além do esporte e do evento, José Renato também viveu experiências divertidas nas cidades por que passou e torce para conhecer novos locais e ter a chance de fazer novas pautas. O repórter sempre busca levar um pouco da cultura local em suas reportagens nos Estados Unidos. Neste ano, ele terá a chance de mostrar uma cidade canadense pela primeira vez, já que o Toronto Raptors alcançou as finais da NBA.

Entre viagens, noites mal dormidas e refeições em horários estranhos, elementos que fazem parte da rotina de uma cobertura dessa magnitude, José Renato já viveu experiências curiosas, desde encontros fortuitos com Rihanna, Bruce Willis e Carlos Santana, passando por entrevistas inesperadas com Neymar, Lewis Hamilton e Gustavo Kuerten e indo até grandes reportagens e entrevistas com as maiores personalidades do mundo do basquete, como LeBron James, Stephen Curry e Kobe Bryant.

José Renato Ambrósio com Anderson Varejão e Stephen Curry na cobertura das finais de 2016 (Arquivo Pessoal)

O UOL Esporte conversou com o repórter, que contou algumas experiências curiosas que vivenciou no período, entrevistas marcantes, atuações inesquecíveis que presenciou e a importância dessa marca para sua carreira. Confira abaixo:

Qual a importância das finais da NBA na sua carreira?

Antes das finais da NBA, eu já tinha participado de alguns grandes eventos: as Olimpíadas, alguns torneios de tênis, final de Roland Garros. Tem a particularidade de que a ESPN é uma empresa americana, que dá uma atenção diferente a esportes americanos, e cobrir as finais da NBA faz parte do meu crescimento dentro da emissora.

É sempre uma responsabilidade fazer essa cobertura, principalmente com o público, mas também com a própria emissora, que está investindo. Então, responsabilidade é a palavra que melhor define uma cobertura desse tipo.

É interessante que, até por a ESPN ser uma empresa americana, tem uma diferença muito grande em como o pessoal lá nos enxerga. Eles até pedem pra tirar foto, às vezes. Coisa que não é muito comum aqui.

Dentre os maiores eventos que você cobriu – Copa do Mundo, Olimpíadas  – em que posição você colocaria a NBA?

As Olimpíadas são especiais. Lá, estão todos os acontecimentos, os maiores atletas, é diferente. Eu também já fiz finais de Champions League, Copa do Brasil, teve a Copa do Mundo no Brasil, em 2014, Jogos Mundiais Militares.

As finais da NBA são especiais pelo espaço que ganham dentro da emissora, por ser uma liga americana, pelo investimento.

Qual entrevista você mais gostou de fazer durante essas coberturas?

Tem muitas entrevistas especiais. Entrevistar os brasileiros sempre é especial. Teve uma entrevista com o Curry em 2017, que foi muito legal porque ele demonstrou muito interesse no nosso trabalho, ele tem uma leveza diferente. Também teve entrevista com LeBron na primeira passagem dele pelo Cleveland, com John Wall… Entrevistar grandes jogadores é sempre muito legal.

Uma que foi especial para mim foi com o Kobe Bryant. Não faz parte das finais da NBA, foi na despedida dele. Até por isso foi uma entrevista com mais tempo, mais tranquila, mais bem produzida.

José Renato Ambrósio com Kobe Bryant em 2017 (Arquivo Pessoal)

Quanto você tem de altura? É intimidador entrevistar os gigantes da NBA?

Eu não me considero baixo. Tenho 1,80m. Mas o padrão da NBA é de 2,00m pra mais. Meus familiares sempre brincam comigo quando eu vou fazer entrevistas por conta da diferença de altura, mas os próprios jogadores estão acostumados. Os repórteres americanos não são muito mais altos que eu, só aqueles que foram jogadores de basquete em algum momento.

Você sempre gostou de NBA ou aprendeu a gostar já na ESPN?

Na minha infância, eu gostava mais de futebol, futsal e vôlei. A partir do momento que eu entrei na ESPN, como estagiário ainda, eu passei a gostar mais de NBA, até pela importância que a emissora dá para o esporte.

É legal ver que os jogadores são engajados socialmente – tem uma inteligência acima da média -. ver a organização da liga. Aprendi a gostar de tudo isso e, mais ainda, depois de cobrir as finais e ver tudo isso de perto. Hoje, posso dizer que sou um grande fã.

Você torce para algum time?

Engraçado que muita gente me pergunta isso. Não, não tenho um time. O que acontece, às vezes, é de eu simpatizar com uma equipe por alguma situação, como quando um brasileiro está envolvido em uma briga por título.

Outra vez que me identifiquei com uma situação foi em 2013. A final foi San Antonio Spurs x Miami Heat, e a cidade de San Antonio tem uma comunidade latina muito grande, então os torcedores torcem de um jeito diferente, que lembra os torcedores de futebol.

As entrevistas são pré-marcadas ou você tenta buscar tudo na hora?

Como a ESPN é a emissora oficial das finais da NBA, a gente consegue marcar antes as entrevistas. Esse ano, por exemplo, já mandamos uma lista de quatro ou cinco jogadores que queremos entrevistar. E funciona assim com a ESPN americana, a latina, a chinesa.

Mas claro, que chegando lá, surgem personagens inesperados, e nós também buscamos entrevistas novas. A ESPN também avisa sobre a disponibilidade.

Quando você vai cobrir uma final, qual a sua rotina nos EUA?

A coisa mais básica com que temos que nos preocupar é fuso horário. Sempre que cobrimos in loco, nós participamos de todos os programas da ESPN aqui no Brasil. Então, se o primeiro programa é às 9h, e isso é 6h lá nos Estados Unidos, temos que ficar prontos às 6h. Se for mais tarde, mais tarde. Assim, definimos nossa rotina, alimentação, horários de sono.

Além disso, nós também aproveitamos as viagens para fazer matérias especiais nas cidades, comunidades, com alguns jogadores. Temos que aproveitar, fazer valer o investimento de levar toda uma equipe para os Estados Unidos.

Assistindo às partidas de dentro da quadra, qual foi o melhor jogador que você viu em ação?

Teve a despedida do Kobe, com 60 pontos, que foi incrível. A gente sabia que estávamos diante de algo histórico ali.

Agora, em se tratando de finais de NBA, destaco a partida número 7 da final de 2016. Naquela série, o LeBron James teve triplo-duplo de média e, quando os Cavaliers venceram o último jogo, ele grita para a torcida: "This is for you" (Esse título é para vocês). Foi algo muito marcante. É a cidade dele, o time dos pais dele, o lugar em que ele cresceu. Depois, nós vimos ele passando com os dois troféus, de campeão da NBA e de MVP das finais, chorando, e indo para o vestiário. Ali, também, deu pra ter a noção de que estávamos diante de um momento histórico.

José Renato Ambrósio com equipe da ESPN na cobertura das finais de 2016 (Foto: Arquivo pessoal)

Você gosta da hegemonia do GSW? Apesar de você presenciar um momento histórico, se outros times chegassem às finais, você poderia conhecer mais cidades e torcidas.

Ainda bem que os Warriors são de São Francisco, que é uma cidade com muitas atrações. Não é nem por querer conhecer mais cidades, mas por querer pautas novas, que seria legal que outros times chegassem. Cleveland já estava esgotando.

Eu sempre procuro mostrar a cidade, pontos turísticos, a comunidade. Em São Francisco, já fizemos pautas muito legais, relacionando com a comunidade. Tem a cidade de Akron, perto de Cleveland, que é onde o LeBron nasceu e o Curry também. Então, não é só entrevistar jogadores, mas mostrar  a cultura dos lugares envolvidos nas finais.

Nessas finais in loco que você acompanhou, qual a situação mais inusitada? Você já citou, por exemplo, que acompanhou o título do Miami Heat em 2013 ao lado de Bruce Willis.

Eu encontrei algumas personalidades. É bem diferente do Brasil, né. Eles vão e torcem para o time. Já vi a Rihanna, o Carlos Santana. Às vezes torcendo, às vezes cantando o hino.

Em 2013, um careca passou por mim, pediu licença e apontou para um assento. Eu me virei, olhei e era o Bruce Willis.

Tem muitos brasileiros também que a gente encontra em um ambiente diferente, já encontrei o Neymar, o Guga. O Neymar, inclusive, foi com o Lewis Hamilton. Eu achei que era só mais um amigo do Neymar quando fui entrevistar. Aí, quando fui falar com ele, vi que era o Hamilton e pedi uma entrevista.

Qual final de NBA você gostaria de ter feito a cobertura, mas não teve a oportunidade?

Infelizmente em 2014, por conta da Copa do Mundo no Brasil, nós não tivemos uma equipe in loco para as finais da NBA. E foi o ano do primeiro título de um brasileiro na liga, com o Tiago Splitter nos Spurs. Essa é uma final que eu gostaria de ter feito.

Além disso, claro, gostaria de ter feito uma final do Jordan nos anos 1990, do Magic Johnson, nos anos 1980 e uma com o Kobe e o Shaquille O'Neal.

Você cobriu diversas finais com brasileiros. Como você vê a situação dos brasileiros na NBA hoje? Alguma chance de voltarmos a aparecer nas finais?

Vivemos uma entressafra. Os brasileiros não chegaram a ser protagonistas na NBA, mas tiveram papéis importantes em seus times. Agora, o Leandrinho e o Varejão voltaram, o Tiago Splitter está trabalhando nos Nets, e o Nenê pode se aposentar nessa ou na próxima temporada. Mas é legal ver o papel que eles tiveram.

O Leandrinho ainda nestes playoffs foi ovacionado pelos torcedores dos Warriors. O Varejão sempre que voltou a Cleveland era tratado com um carinho incrível. O Splitter, que foi campeão com os Spurs, também tem uma relação muito boa com a torcida. E o Nenê, pra mim, o mais bem-sucedido, foi muito bem em muitos times e é muito respeitado pelos jogadores e torcedores.

Agora, a gente vê o Bruno Caboclo, que terminou a temporada com mais minutos. O Raulzinho deve ganhar mais espaço. No próximo Draft, temos alguns brasileiros candidatos a entrar, com destaque para o Didi, que está cotado para primeira ou segunda rodada.

E como você vê o basquete brasileiro? Acha que houve uma evolução nos últimos anos com a organização da Liga?

O NBB já tem dez anos. Já esta estabelecido. Claro que o fortalecimento da Liga Nacional favorece a entrada de atletas na NBA. Mas o NBB é uma coisa, e a Confederação é outra. A minha opinião é que uma união fortaleceria o basquete nacional.

Seria bom ver mais jogadores na NBA, mas temos jogadores fazendo sucesso na Europa, temos alguns com chance de entrar agora.

Um palpite para o Mundial?

Eu procuro sempre ser otimista. Acho que o Brasil deve passar da primeira fase. Claro, tem adversários difíceis, mas acredito que dá pra passar.

Você produziu o especial Diamantes Eternos, que será exibido nos próximos dias na ESPN. Alguma chance de voltarmos a ser campeões mundiais?

Essa reportagem foi muito legal porque reunimos os jogadores que ainda estão vivos e foram bicampeões mundiais com a seleção brasileira. Eles viveram uma época completamente diferente do basquete no cenário nacional. Eles iam para o Mundial como favoritos. Eram eles, a União Soviética e os Estados Unidos. Quando não ganhavam, sempre estavam no pódio. Foram recebidos pelo presidente Juscelino quando ganharam o Mundial. Era muito diferente.

É interessante notar que eles têm até uma certa indignação de ver que hoje a seleção vai para o Mundial e considera passar de fase um bom resultado.

Nota da redação: O conteúdo já está disponível no WatchESPNQuer ver a programação completa de todos os canais ESPN? Assine no UOL Esporte Clube

Sobre a carreira de ator. Você fez uma participação na segunda temporada do seriado Juacas, do Diisney Channel. Pretende investir nessa carreira? Como foi essa experiência? De onde surgiu o convite?

Foi uma experiência muito interessante. Eu atuei como eu mesmo. Eles precisavam de alguém que interpretasse um repórter esportivo. E por conta da relação da ESPN com a Disney, acabaram me chamando. O Juacas é um seriado sobre surfistas, e a experiência de atuar foi muito bacana.

É diferente para nós, repórteres, que estamos acostumados com prazos apertados, com improviso. Lá não tem isso. Eu tive que decorar algumas páginas de roteiro, é tudo bem trabalhado, com calma. Até ficar bom.

Foi legal também que no seriado tem o Nuno Leal Maia, que era professor em Malhação, quando eu assistia. Além disso, tem diversos jovens atores que já fazem muito sucesso, que fizeram outras novelas, como Carrossel, Hoje é dia de Maria.

Eu gravei dois episódios. Um já foi ao ar. O outro, eu não posso falar para não dar spoilers.

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