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Luis Roberto homenageia Coutinho, que inspirou bordão "negros maravilhosos"

Ana Carolina Silva

13/03/2019 04h00

(fotos: PA Images via Getty Images e reprodução/Instagram)

Foi mais do que dizer adeus a um amigo ou ídolo: Luis Roberto se despediu de um dos "negros maravilhosos" que moldaram sua visão de futebol. A morte de Coutinho, ex-atacante do Santos e da seleção brasileira, fez muitas lembranças virem à tona na mente do narrador da TV Globo, que criou o bordão inspirado em algo que o pai dizia sobre aquele time e o jogador que nunca se viu como coadjuvante de Pelé.

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"Não tenho dúvida de que meu pai se referia a Mengálvio, Coutinho e Pelé. O Pepe era o único branco do ataque. Quando eu era moleque, a gente ia ver jogo do Santos no Pacaembu, embora eu não fosse santista, para contemplar aquele time. O maior de todos os tempos. Ele vivia falando sobre os negros maravilhosos com uniforme branco, e sobre como é bonito esse contraste", relembrou em entrevista ao UOL Esporte.

Luis Roberto não chegou a ver Coutinho em ação diante de seus olhos; segundo ele, Toninho Guerreiro era o atacante do Santos quando começou a frequentar estádios com o pai. Mas o jornalista, eleito melhor narrador de 2018 pelos leitores do UOL Esporte, teve oportunidade de ouvir histórias contadas pelo próprio ídolo.

"Fui amigo do Coutinho… Na verdade, eu trabalhei em Santos e estudei em Santos, me formei em Santos. Eu trabalhava na Rádio Cultura, ali no Gonzaga [bairro de Santos], e tinha uma loja de material esportivo que alguns ex-jogadores do Santos frequentavam. O Pepe, o Coutinho, entre outros", contou.

"Eles viviam contando histórias daquele Santos, e eu saía da rádio e os encontrava ali. Ficavam sempre ali, reunidos e jogando conversa fora. Era bem gostoso de ouvir, porque o Coutinho tinha histórias incríveis. Foram tempos maravilhosos para mim. Para nós, mais jovens, é importante reverenciar e agradecer pela contribuição deles. Nós só estamos aqui hoje, entendendo o futebol desta forma, por causa deles", completou.

(foto: reprodução/Instagram)

Apesar de ter sido privilegiado com os relatos do próprio Coutinho, com quem ainda se encontrou outras vezes em programas de Globo e SporTV, Luis Roberto lamenta por não ter se lembrado de contar ao ex-atacante o que seu pai costumava dizer sobre aquele Santos.

"Talvez eu tenha comentado de ter descoberto aquele time por conta da paixão do meu pai pelo futebol, mas não com essa expressão. A expressão dos 'negros maravilhosos' veio mesmo na Copa do Mundo [de 2014, quando virou meme]. Estava bonito demais a França jogando contra a Suíça e goleando. Que pena, bem que eu podia ter contado para ele [Coutinho] sobre o meu pai!"

Quando questionado sobre o maior legado de Coutinho, Luis Roberto não teve de pensar muito; bastou considerar os lances que viu do futebol do ex-atacante e tudo que ouviu nas conversas com o ídolo. Foi simples: "Esse ensinamento talvez seja o mais profundo… Como ele conseguiu não ser coadjuvante em um time que teve o Pelé".

(foto: Ricardo Nogueira/Folhapress)

"A gente tem de contribuir com alguma coisa, e ter dimensão das coisas que a gente faz é importantíssimo. O Coutinho tinha total dimensão de sua grandeza, principalmente por mostrar que é possível, sim, dividir o time com outros gênios. O Neymar não vai dar certo com o Messi? Claro que vai! Eles [Coutinho, Pepe e Mengálvio] conviviam com Pelé. Claro que o Pelé era o Rei, era o alto-falante daquilo tudo, mas não tinha coadjuvante em campo. Eles se respeitavam".

"O fato de ele ter jogado em sintonia com Pelé, com as tabelinhas que se notabilizaram, que pareciam fáceis. Hoje em dia é difícil você ver tabelas de toques curtos. Eu me lembro perfeitamente de um comentário do Coutinho sobre o Real Madrid da época: 'puxa, eles são tão geniais, mas não conseguem fazer uma tabelinha curta!'. O Coutinho e o Pelé tocavam suave na bola", relembrou Luis Roberto, com evidente carinho.

Coutinho morreu anteontem (11), mas o jornalista já havia perdido seu maior ídolo há nove anos, em 2010. Por isso, ele não tem a resposta exata para como o pai reagiria se soubesse da morte do ex-atacante.

"Acho que [a morte] é a lei natural da vida, embora 75 anos, hoje, seja uma idade com produção. Acho que a sensação do meu pai seria de contemplação, de lamentar por quem fez tão bem a ele e a tanta gente. Quem viveu aquilo sabe que o Santos de Pelé causou mudanças no futebol mundial. Quando os próximos começam a partir, você tem noção de que a vida segue e a nossa vez está se aproximando. Como a molecada diz, a fila anda", concluiu.

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