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Com mercado de TV inflacionado, futebol europeu flerta com a década de 1980

UOL Esporte

11/08/2018 04h00

Ameaçado neste ano, Camp. Italiano é transmitido desde os tempos de Falcão na Roma

O começo da temporada europeia de futebol trará algumas novidades para o público brasileiro. Cristiano Ronaldo já não estará no mesmo torneio de Messi, Neymar ganhará a concorrência de alguns campeões do mundo e você não poderá ver nenhum dos dois na TV como se acostumou nos últimos anos.

Com o mercado da bola batendo recordes e mais recordes de valores nas transferências, alguém precisa pagar a conta. E quem está assinando o cheque é a televisão em todo o mundo, que investe nos campeonatos com a compra dos direitos de transmissão. O problema é que, no Brasil, especificamente, a inflação do mercado encontra um negócio combalido.

Nunca antes desde o boom da TV paga no Brasil, no fim dos anos 2000, tantos torneios ficaram sem um dono na televisão brasileira. O grande problema se passa pela crise que vive o setor no Brasil atualmente.

Desde o fim de 2014, o número de assinantes está caindo. Naquele ano, o pico foi de quase 20 milhões de assinantes. Atualmente, a TV paga está na casa dos 17,7 milhões. Nos seis primeiros meses de 2018, em apenas um a TV paga conseguiu aumentar seu número de adeptos em relação ao mês anterior. Uma pesquisa da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) mostrou que, entre maio de 2017 e 2018, a TV por assinatura perdeu exatos 787.513 contratos de assinaturas – uma média de pouco mais de 2 mil menos assinantes por dia. Com menos assinantes, menos dinheiro e anunciantes. Consequentemente, as TV's brasileiros estão sem verba para adquirir os cada vez mais caros direitos de transmissão.

Prestes a começar a temporada, os campeonatos Italiano e Frances, além da UEFA Europa League, Copa da Inglaterra, Copa do Rei da Espanha, Copa da Itália e a Copa Sul-Americana – esta última a partir de 2019 – estão sem donos. Nunca tantos direitos ficaram na praça sem um interessado.

Mesmo sem a temporada regular ter se iniciado, os reflexos já foram sentidos. No último domingo (5), a Supercopa da Inglaterra, entre Manchester City e Chelsea, não foi transmitida para o Brasil, já que ninguém ainda adquiriu os direitos da Copa da Inglaterra – até a temporada passada, eles eram da ESPN Brasil.

Os que mais chamam a atenção são os casos do Campeonato Italiano e do Francês. O primeiro é o campeonato estrangeiro mais longevo da história da TV nacional, tendo pelo menos uma partida exibida na TV desde a temporada 1982/83 – ano em que a Roma de Falcão, considerado o Rei de Roma, foi campeã. A última vez que nenhum canal esportivo exibiu o Italiano foi em 2002/2003, por conta da falência do canal PSN, que detinha os direitos até aquele momento – mesmo assim, a RAI International, com penetração em TVs pagas como Net e Sky, exibiu partidas naquele ano para o Brasil.

Em toda a sua história, o Italiano passou por diversas TVs, como Band – com a transmissão nos domingos pela manhã lembrada até hoje -, Globo, ESPN Brasil, Fox Sports, PSN e até SporTV. Neste ano, o Italiano está valorizado graças à chegada de Cristiano Ronaldo para a Juventus, mas o valor é caro: pelo menos US$ 25 milhões. Quatro canais disputam os direitos, mas reclamam da inflação desmedida de valores, imposta pela IMG, gigante do setor que está negociando o torneio pelo planeta.

O caso do Francês é ainda mais grave. Começando neste fim de semana, nem mesmo o PSG de Neymar conseguiu atrair grandes interessados até aqui. O valor, na casa dos US$ 20 milhões, pedidos pela agencia beIN, também tem afastado aqueles que querem exibir o torneio. Na última sexta, o UOL Esporte vê TV noticiou que a Globo desistiu da Liga Francesa por considerar que os valores estão altos demais.

O campeonato é exibido no Brasil, de forma mais regular, desde a temporada 2003/04, quando foi adquirido pelo Band Sports. Ele já teve passagens pela própria ESPN Brasil e pelo SporTV, que usava o torneio na temporada passada para rechear o seu fim de semana de eventos.

No caso das Copas nacionais, como a Copa da Inglaterra e da Itália, as emissoras entendem que são os torneios de "última prateleira", que podem ser comprados depois, caso os torneios prioritários não sejam adquiridos.

O grande porém é que, até aqui, torneios com bons atrativos ainda não foram fechados. No caso da Liga Europa, a licitação foi realizada, mas o seu vencedor ainda não foi divulgado. Já a Sul-Americana não teve seu valor mínimo atingido, e a agência FC Diez Media deve refazer a licitação.

No Brasil, a grande virada para a valorização dos torneios foi a compra da Champions League pelo Esporte Interativo no fim de 2014, pelo valor de US$ 130 milhões na ocasião. Depois disso, a Globo teve de pagar mais pelas renovações de Copa do Brasil, Libertadores, e principalmente Campeonato Brasileiro, que a partir de 2019 terá concorrência do grupo Turner, que ficará com o espólio do Esporte Interativo. Já a ESPN adquiriu o Espanhol e o Inglês por valores recordes no Brasil, enquanto a Fox também teve de pagar alto pela Libertadores, seu maior atrativo na programação.

A valorização dos torneios no Brasil são apenas uma consequência da loucura do mercado europeu de direitos esportivos, que nunca distribuiu tanto dinheiro. Apenas na Europa, segundo contratos atualizados, as TVs pagam cerca de US$ 12 bilhões (R$ 40 bilhões) para os clubes das principais ligas do continente, além da UEFA Champions League. O mais valioso atualmente é o do Campeonato Inglês, com o atual contrato de 5,1 bilhões de libras.

Já na Itália, a agencia Mediapro comprou os direitos da Série A por 3,1 bilhões de euros por três anos, fazendo o campeonato se aproximar do Alemão e Espanhol em valores de TV – eles custam 3,48 bilhões e 3,30 bilhões de euros, respectivamente.

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