Topo

Luis Roberto festeja sucesso de bordões e conta "perrengue" vivido na Copa

UOL Esporte

14/07/2018 04h00

Poucos brasileiros saíram tão em alta da Copa do Mundo quanto o narrador Luís Roberto de Múcio. O locutor da TV Globo se destacou pelos bordões carismáticos e se tornou uma "febre" das redes sociais durante o período do Mundial. Entretanto, nem tudo na Rússia saiu como o esperado. Assim como a maioria dos profissionais em grandes coberturas, ele também passou por "perrengues" que as câmeras não mostram.

Por que perdemos? Os fatores que contribuíram para a queda da seleção
Perrengues na Rússia: de motorista dorminhoco a hotel de filme de terror
– Copa mostra que árbitro de vídeo pode minar agressões e "malandragens"

O maior problema enfrentado por Luís Roberto se deu na comunicação. O alfabeto cirílico russo é um desafio a qualquer pessoa ocidental, e com o locutor da Globo não foi diferente. Até mesmo os pedidos mais simples soavam com dificuldade, mesmo para quem está acostumado a falar (com destaque) para milhões de pessoas a cada transmissão na Copa do Mundo.

"Em Kaliningrado, onde transmiti Inglaterra x Bélgica, poucas pessoas falam inglês. Um dia, em um restaurante, eu não conseguia fazer o garçom entender que eu só queria beber água. Depois de alguns minutos, apontei para a mesa ao lado e, só assim, consegui fazer com que ele entendesse o que eu queria", contou o narrador, em entrevista exclusiva concedida ao UOL Esporte.

"A gente acaba perdendo um tempão com isso, mas acabamos nos divertindo com essas histórias. O serviço dos restaurantes também é diferente. Eu, Cleber Machado, Junior e Roger fomos a um restaurante e, quando pedimos a bebida, o garçom avisou que ela demoraria 20 minutos para chegar. Na Rússia tem disso", acrescentou Luís Roberto.

O "perrengue" da água diverte Luís Roberto, que voltará ao Brasil de bem com a vida. O sucesso alcançado na Copa do Mundo anima o narrador, acostumado nas últimas semanas ao assédio constante e elogios nas redes sociais. Acima de tudo, o profissional, que narra neste sábado a disputa do terceiro lugar entre Bélgica x Inglaterra na emissora de maior alcance no país, sai orgulhoso com o próprio trabalho realizado.

"Quando vejo que há uma repercussão bacana do nosso trabalho, eu percebo que as escolhas que fizemos foram legais e estão indo ao encontro do que o público está buscando. Fico feliz com a repercussão, porque estou cumprindo o meu papel de jornalista, de comunicador. A principal sensação é a de dever cumprido", afirma.

Confira o papo completo do UOL Esporte com Luís Roberto:

UOL Esporte: Você tem sido um dos grandes nomes da Copa. Como vê essa repercussão?
Luís Roberto: A Copa do Mundo é um grande momento do esporte para os brasileiros, e os jornalistas esportivos se preparam muito para essa cobertura. Narradores, comentaristas e repórteres sabem que, a cada quatro anos, viverão momentos diferentes, únicos, que demandam preparação especial: entender o tamanho do evento, o que ele representa, o público que atinge e saber como levar o que estamos sentindo para quem está em casa. Para mim, isso é o mais importante. (…) Com a diversidade da audiência, é importante estar com tudo isso na cabeça para traduzir o evento para quem acompanha futebol e para aqueles que só curtem a Copa. É muito importante tirar, dessa cesta de informações, uma forma de comunicação bacana, divertida, emocionante e que atinja todos esses públicos.

UOL Esporte: A parceria entre você e o Roger também funcionou muito bem. Qual o segredo para o sucesso em tantos dias juntos numa cobertura intensa como a Copa?
Luís Roberto: Quando soube que o Roger seria a minha dupla na Copa do Mundo fiquei muito tranquilo, porque já tínhamos trabalhado juntos em jogos da Copa de 2014 e de outros campeonatos. O Roger chegou na Copa pronto para esse desafio e a nossa química foi imediata. Temos um temperamento parecido, gostamos das mesmas coisas, de fazer exercício, de estudar muito o jogo. Isso se encaixou, deu certo e espero que a gente faça outras coberturas e aproveite esse bom entendimento que rolou na Copa do Mundo. Segredo não tem, mas tem fatores profissionais que estavam bem sólidos. Por isso foi tão bacana e tranquilo conviver e trabalhar com o Roger.

UOL Esporte: Sobre o bordão "esses negros maravilhosos". Esperava tamanha repercussão nesta Copa? As pessoas sentiram muito a sua falta no primeiro jogo da França…
Luís Roberto: Em 2014, houve uma grande repercussão com a história dos "negros maravilhosos". Muita gente se divertiu. Quando a Copa foi se aproximando, as pessoas voltaram a falar do bordão. É divertido quando as pessoas encaram essas brincadeiras com bom humor. Não foi nada muito elaborado. Fui escalado para fazer o segundo jogo da França e foi engraçado, a expectativa pelo bordão causou agito nas redes sociais e eu acabei me divertindo também.

Publicação feita por Luis Roberto (Reprodução/Instagram)

UOL Esporte: Você contou que é uma homenagem ao seu pai. Pode falar mais sobre isso?
Luís Roberto: Quando meu pai era garoto, era apaixonado por assistir aos jogos do Santos, do Pelé, talvez o maior time de futebol de todos os tempos. Morávamos em São Paulo, capital, e ele ia muito ao Pacaembu, para assistir aos jogos do Santos. Uma vez ele comentou comigo sobre os jogadores do Santos vestidos de branco e disse: "esses negros maravilhosos vestidos de branco". E eu fiquei com isso na cabeça. Durval, Mengálvio, Coutinho, Pelé… Era um timaço.

UOL Esporte: Você acabou expandindo o bordão "negros maravilhosos" para outros jogos, como em um momento com o Di Maria, em que usou "Esses canhotos maravilhosos". Você pretende manter a brincadeira fora da Copa?
Luís Roberto: Antes da Copa, o pessoal do programa 'Zona Mista', do SporTV, me convidou para participar de uma brincadeira e gravar esse bordão para cada seleção: "esses croatas maravilhosos", "esses vikings maravilhosos", "esses Shakespeares (sic) maravilhosos". Eu achei legal, topei a brincadeira e eles usaram no programa. No jogo dos canhotos, isso me veio à cabeça. Foi legal, a garotada curtiu. E os canhotos são maravilhosos mesmo. O Roger é canhoto também, então foi uma forma de brincar com ele e com o Di Maria, um grande jogador argentino.

UOL Esporte: No decorrer da Copa, acompanhamos nas redes sociais, muitos pedidos de internautas e telespectadores para vê-lo narrando todos os jogos. Como você se sente com isso?
Luís Roberto: Toda manifestação de carinho é bem-vinda. Eu tenho o maior respeito por todos os narradores, pelas suas histórias e pelo espaço que conquistaram ao longo de suas carreiras. Acho legal receber mensagens de amigos ou de seguidores nas redes sociais elogiando o trabalho.

UOL Esporte: Como surgiu a ideia do bordão para o Harry Kane?
Luís Roberto: O "sabe de Kane?" foi inspirado pelos internautas. Muita gente brincou com isso antes do jogo. E quando o Harry Kane fez o gol de pênalti sobre a Colômbia, rolou. Soltei o bordão e o pessoal curtiu. Os bordões servem para dar uma pitada de bom humor, de descontração para a transmissão. Depois desse dia, narrei mais dois jogos da Inglaterra, mas o Kane não fez gol. Quem sabe no sábado, na disputa pelo terceiro lugar, eu não possa usar de novo o "sabe de Kane?". E ele ainda pode ser o artilheiro da Copa.

UOL Esporte: Como foi narrar a primeira semifinal de Copa na Globo?
Luís Roberto: Todo jogo de Copa é legal, importante, tem uma grande repercussão e é uma grande responsabilidade. Dos jogos que eu narrei nesse Mundial, talvez o de maior repercussão tenha sido México 1 x 0 Alemanha, uma das primeiras transmissões. Fazer esse jogo foi tão legal quanto fazer a semifinal. Não foi surpresa narrar a semifinal, essa escala já estava prevista desde que saímos do Brasil. Eu me sinto feliz por poder desfrutar de uma partida tão importante. E acabou sendo o jogo que levou a 13ª nação diferente a disputar uma final de Copa. Todo jogo de Copa tem um enredo bacana e esse não foi diferente.

UOL Esporte: Os bordões sobre a novela Belíssima também se tornaram muito populares. Você curte assistir novelas? Acompanhou a dramartugia na primeira vez que foi transmitida?
Luís Roberto: As chamadas da programação são elaboradas pela Globo, e nós embarcamos e navegamos nas ideias propostas. 'Belíssima' foi uma novela que eu consegui acompanhar quando foi ao ar pela primeira vez. Eu curto teledramaturgia. As novelas da Globo são espetaculares, referências internacionais, mas nem sempre consigo acompanhar porque viajo muito a trabalho e, na hora da novela, muitas vezes estou me preparando para entrar no ar. 'Belíssima' foi um grande sucesso e a galera curtiu muito o "vai rolar um babado forte". Eu também me diverti.

Por Beatriz Cesarini
Do UOL, em São Paulo (SP)

Sobre o Blog

A TV exibe e debate o esporte. Aqui, o UOL Esporte discute a TV: programas esportivos, transmissões, mesas-redondas, narradores, apresentadores e comentaristas são o assunto.