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Mauro Cezar e Cuca se acertam. Jornalista propõe reflexão além do "Cucabol"

UOL Esporte

25/09/2016 17h04

Mauro Cezar

Muito além do "Cucabol". Assim Mauro Cezar Pereira, comentarista da ESPN Brasil, definiu em conversa com a reportagem do UOL Esporte sobre a crítica que fez ao estilo de jogo do Palmeiras, líder do Brasileirão, opinião questionada pelo técnico Cuca, de cabeça quente, pós-vitória sobre o Coritiba, por 2 a 1, neste sábado (24), e que gerou reação do jornalista ao vivo na TV. Ambos conversaram pela manhã e se acertaram.

"Eu liguei pra ele, e ele me retornou. Tivemos uma conversa muito boa, de uma maneira super tranquila, civilizada, como deveria ser sempre. Sem problema nenhum. Expliquei pra ele que se no passado fiz um elogio público, porque estava muito bem no Botafogo, da mesma forma que você elogia você também critica, é o nosso trabalho. Imagina ser um comentarista que, por ser amigo do técnico, não critica o técnico? Jamais faria isso. A conversa foi super profissional, muito madura, ele tava mais calmo, tava irritado, final de jogo, super normal. É perfeitamente natural que um técnico se incomode com uma crítica", conta.

"Expliquei meu ponto de vista, ele explicou o ponto de vista dele, tá tudo certo. Meu trabalho é dar minha opinião, eu dou minha opinião, e o trabalho dele é treinar o time. Ele não gostou de uma crítica que, pelo jeito, ele nem viu, não gostou, reagiu daquela forma, eu falei pra ele o que eu achava, ele falou. Eu não vejo nada demais em chamar de 'Cucabol'. Agora, ele tem o direito de achar ruim, mas eu acho que ele achou ruim porque não viu, não ouviu, não leu. Soube por terceiros, foi a impressão que eu tive, e aí ficou uma coisa meio telefone sem fio", continua o comentarista, que garante sequer ter ouvido de Cuca específica sobre o termo. Falaram sobre futebol, garante, negando qualquer problema com o profissional do Palmeiras.

"O que tá acontecendo é que na imprensa esportiva tem muito jornalista amigo, que só analisa futebol por posição na tabela, só resultado, não analisa o jogo, o que cada time pode produzir, então quando alguém fala alguma coisa que não é positiva sobre o líder, isso soa estranho, né, pra ele e pra qualquer técnico. Eu tenho ousado a desafiar essa lógica, então é natural que alguém se sinta incomodado. Eu acho que o Campeonato Brasileiro é liderado por um time que não produz tudo o que poderia, mas ele tem as dificuldades, as necessidades dele", pondera.

"A discussão que eu tenho promovido é que o futebol brasileiro, que é muito nivelado por baixo, Muricybol, Cucabol, qualquer um desses "bol" acaba sendo o bastante. Muito pouco. Um time, que toda vez que pressionado, ele não apresenta repertório, a não ser cruzar bola na área. Pressão, pressão, pressão er cruzamento, lateral, bola parada, em movimento, mas o time não produz uma jogada, busca uma tabela. Ontem, o segundo gol mostra que esse time tem condições de fazer mais do que isso. Esse é o questionamento que eu faço", explica.

"Cucabol" é a marca do Palmeiras no Campeonato Brasil, insiste Mauro. "'Cucabol' é a marca do time. Fora de casa, joga no contra-ataque, como contra o Corinthians. Dá a bola para o adversário e tenta sair em velocidade e cruzamento. Em casa, assim. É legítimo, pode jogar futebol de qualquer maneira, mas avaliação crítica faz parte do jogo. O líder do campeonato também pode ser criticado", argumenta, no entanto fazendo uma defesa dos treinadores brasileiros de uma maneira geral, vítimas, segundo ele, muitas vezes das imprensa esportiva e propõe uma reflexão sobre o assunto.

"A culpa não é só dos técnicos, não. É dos técnicos, da torcida e da imprensa. Só se vê o resultado. O Tostão escreveu sobre isso outro dia. Qualquer um que se atreva a comentar futebol sem se basear apenas no resultado, é atacado, chamado de clubista e coisas do gênero. Talvez seja um problema cultural até. Os técnicos só fazem parte do contexto, não é só culpa deles, não, porque também eles têm dificuldade em colocar algo diferente na prática, porque se os resultados demorarem a surgir a gente coloca o técnico na berlinda, começa especular sobre demissão, a nossa imprensa colabora demais com isso. Então, qualquer trabalho de média a longo prazo é difícil de implementar, ele até argumentou isso e eu concordei com ele, só que o meu trabalho é fazer uma análise do que eu tô vendo, a gente não tá no mesmo lado, na mesma equipe. Estaremos do mesmo lado quando fizer algo que venha elogiar e ele ficar feliz, mas isso é circunstancial, não é a tônica e precisamos conviver com isso", avalia.

"Como é que esse time joga? Ele produz tudo o que ele pode? É satisfatório? Por que os times brasileiros têm fracassado na Libertadores? A gente tem que discutir o nosso futebol, não em cima de resultados que, muitas vezes, são frutos de disputas no país. Como é o nosso desempenho quando nossos times enfrentam equipes de fora? Isso merece discussão. A minha função como jornalista, como comentarista, é provocar reflexão nas pessoas, fazê-las pensar", ressalta.

"É claro que numa época de ódio, com um monte de pessoas que não conseguem racionar na internet, tudo passional, há muita gente que não entende nada, mas existe vida pensante e eu me preocupo em trabalhar para aquele cara que pensa, não para o tosco, que só sabe ficar agredindo quem não elogia o time dele. Eu não faço comentários para agradar a torcida do Palmeiras, não tô preocupado com a do Flamengo, do Corinthians, do Grêmio. Não gostou, paciência, não tô aqui pra agradar ninguém", reforça.

"Na época do 7 a 1 foi um dos momentos mais difíceis pra mim em 33 anos de profissão, porque era linchado nas redes sociais. 'Ah, o cara não é brasileiro', aquela bobagem, e eu só tava falando o que eu tava vendo, que o time era muito fraco e tomou de 7 a 1. Era pior do que imaginava, na verdade, e aí depois as pessoas vieram me dar razão. É claro que eu posso errar num prognóstico, numa avaliação, isso é natural, mas eu não faço média. Não quero ser simpático a ninguém, quero ser só honesto com meu trabalho e que as pessoas que acompanham o meu trabalho tenham o melhor daquilo que eu possa oferecer, eu sou pago pra isso", esclarece.

Por Rogerio Jovaneli

Do UOL, em São Paulo

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