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"Mulheres são testadas a cada opinião", diz comentarista do EI

UOL Esporte

23/01/2016 06h00

O que Clara Albuquerque faz no Esporte Interativo, poucas mulheres fazem no jornalismo. Aos 32 anos, a baiana é uma das únicas que trabalha como comentarista em transmissões de jogos de futebol – a maioria atua como repórter ou em programas de debate.

Em um ambiente dominado por homens, Clara não esconde que o preconceito existe e a cobrança é maior por causa do seu gênero. "A impressão é que as mulheres são testadas diariamente, a cada opinião. Quando um torcedor discorda de um jornalista homem, acusa ele de torcer para um time rival. Mas quando é uma mulher comentando, a crítica é sempre que ela não entende de futebol. É claramente um preconceito", afirmou em entrevista ao UOL Esporte.

Curiosamente, no entanto, foi justamente por ser mulher que ela conseguiu uma vaga no jornalismo esportivo. Em 2007, Clara lançou o livro "A linha da Bola: tudo o que as mulheres precisam saber sobre futebol e os homens nunca souberam explicar". A obra fez com que fosse contratada pelo jornal Correio da Bahia para escrever uma coluna voltada para o público feminino. Posteriormente, conseguiu uma oportunidade na TV Bahia, afiliada da Rede Globo, onde estreou como comentarista, em 2011.

"Diferentemente do que acontece muitas vezes, eu entrei no mercado justamente por ser mulher. Porque entrei disposta a fazer outras mulheres se interessarem por futebol", explica ela, que diz nunca ter sofrido algum tipo claro de discriminação. "Nunca passei por uma grande tensão de preconceito, mas ainda é uma área machista, não tem como negar. Ainda percebo em redes sociais esse tipo de coisa".

O número de mulheres no meio do jornalismo esportivo ainda é baixo, mas, para Clara, isso mudará de forma gradativa. "Deveria haver mais mulheres no mercado. Mas isso é um crescimento natural, você não pode pegar uma área que é dominada por homens e colocar mulheres que não estão preparadas para aquilo. O ideal é que tenha mais mulheres no mercado e mulheres qualificadas", afirma Clara.

Influência da mãe a fez se apaixonar por futebol

Desde a infância, a relação de Clara com o futebol sempre foi diferente da maioria. Na casa da baiana, o pai Gardel é quem ficava em casa para cuidar dela e do irmão, enquanto a mãe Helena ia à Fonte Nova assistir aos jogos do Bahia.

"Na minha casa, a pessoa mais apaixonada por futebol é minha mãe. Sempre tive uma relação forte com ela e ela me passou essa paixão".

Assim como a mãe, Clara também costumava ser frequentadora assídua dos estádios baianos. Agora, trabalhando no Rio de Janeiro, a relação com a arquibancada diminuiu um pouco. "Sempre frequentei muito a Fonte Nova, em Salvador. Aqui no Rio, a gente trabalha normalmente nos horários dos jogos, então fica difícil ir muito. Mas sempre que posso, vou ao Maracanã", explicou.

E por aparecer na televisão, o reconhecimento nas arquibancadas passa a ser normal. "Aqui no Rio, ainda não fui reconhecida no estádio. Mas em Salvador, acontecia bastante", afirmou Clara. "Sempre tinha muita cornetada de torcedores, mas sempre em tom de brincadeiras, nunca foram desrespeitosos comigo", completou.

Além de Clara Albuquerque, o Esporte Interativo tem oito mulheres em seu quadro: as repórteres Aline Nastari, Ana Karla Martins, Bruna Dealtry e Monique Danello; e as apresentadoras Manoela Caiado, Mariana Fontes, Mariana Pitzer e Melissa Garcia.

Brunno Carvalho
Do UOL, em São Paulo

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