Topo

Alemão do Sportv vê soberba brasileira na Copa e Felipão “cego” com título

UOL Esporte

12/08/2015 06h00

Alemao_1O jornalista alemão Ralf Itzel, o "gringo" do esporte da Globo, um dos destaques no "Central da Copa" ano passado, ama o Brasil: as mulheres, a "galera" do Rio de Janeiro, a natureza das pessoas, a "esculhambação, no bom sentido", diz. Futebol? Curte a rivalidade, torcedores sacaneando uns aos outros no dia-a-dia, a capacidade de saber rir de suas próprias tragédias (7 a 1, por exemplo) e a ida ao estádio, porém não pela qualidade do que atualmente vê em campo: "vou mais pelas torcidas que pelo futebol".

Itzel, hoje comentarista de jogos da Alemanha no Sportv e colaborador de alguns veículos de seu país, é um conhecedor do passado não tão distante de uma seleção alemã em baixa até o trabalho de reconstrução por lá, que culminou não só na histórica goleada sobre o Brasil nas semifinais, mas na conquista do título de Copa do Mundo que não ganhava há 24 anos.

Ele fala nesta entrevista ao UOL Esporte da soberba brasileira, da falta de humildade e abertura para o novo que já foi realidade em sua terra, que soube se reinventar no futebol.

Faltou humildade ao Brasil de Luiz Felipe Scolari, dentro e fora de campo, avalia. "O Brasil e sobretudo Scolari ficaram cegos pela vitória na Copa das Confederações. Copa do Mundo é outra coisa. Ele mostrou muita soberba antes da Copa. O time não deu a impressão de estar realmente concentrado e bem preparado. Muito oba oba. E tinha muito choro depois da lesão do Neymar. Sem ele, o resto se sentia perdido. Não vi muita preparação psicológica", opinou.

"Depois dos dois primeiros gols da Alemanha o Brasil se derrubou. O grande Barcelona podia perder por 3 a 0 e continuava a jogar da mesma maneira, porque nos momentos difíceis os catalães podiam se agarrar a uma ideia clara de jogo, que o Brasil não tinha. Löw, o treinador alemão, também tinha reparado que nos escanteios o Brasil deixava muito espaço no segundo poste e o time se aproveitou disso no primeiro gol. O Brasil não tinha ensaiado bem os movimentos para se proteger depois de perdidas da bola. No futebol moderno as fases de transição do ataque para a defesa são as mais perigosas", prosseguiu.

Segundo o jornalista, o Brasil precisa de um processo semelhante ao feito pelos alemães depois da crise vivenciada entre 98 e 2000, quando aumentaram o intercâmbio de conhecimento com outras nações. "A Alemanha só aprendeu a ser humilde no futebol naquela fase [de baixa] das Eurocopas de 2000 e 2004. Os clubes e as seleções se abriram sobretudo para influências da escola francesa, holandesa e espanhola. Chegaram técnicos como Van Gaal e Guardiola. E o trabalho não pára, lembra: "a federação alemã tem uma 'Agenda 2024', um planejamento para os próximos dez anos. Os grandes desafios são a construção de uma academia nacional de futebol, além de conseguir ser a sede da Eurocopa de 2024. Eles estão trabalhando muito bem, enquanto isso o presidente da CBF, o mais alto representante do futebol do Brasil, está preso na Suíça."

No lado pessoal, diz que foi conquistado pelo jeito de ser do povo brasileiro. "Gosto só das mulheres (risos). Brincadeiras à parte, gosto da natureza daqui, o Brasil é realmente um pais abençoado. Gosto do sorriso fácil das pessoas, de bater um papo leve e divertido com todos. E gosto da esculhambação, no bom sentido da palavra. Outro dia, uma amiga carioca falou uma coisa verdadeira: os estrangeiros, especialmente os europeus, passam uma primeira fase de encantamento, quando chegamos para morar no Brasil: praia, samba, carnaval. Mas depois vem a fase em que caímos na realidade e reparamos bastante nos lados negativos. E aí se tem duas vias a seguir: ou o estrangeiro fica tenso e vai embora, ou ele relaxa. Eu relaxei."

Brasil x Alemanha se enfrentando de novo? Ele acredita, e novamente em solo brasileiro, na Olimpíada do Rio: "20/08/2016. Aposto numa final olímpica entre Brasil e Alemanha no Maracanã", projeta.

Rogerio Jovaneli
Do UOL, em São Paulo

Sobre o Blog

A TV exibe e debate o esporte. Aqui, o UOL Esporte discute a TV: programas esportivos, transmissões, mesas-redondas, narradores, apresentadores e comentaristas são o assunto.