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Âncora da Record se redescobre no Pan e abraça causa de Down após gravidez

uol

23/07/2015 06h00

Cecato_Bandeira
Tirar lições e aprendizado de cada experiência vivenciada, boa ou ruim, e agir ao invés de só observar e esperar que os outros façam. Esses são alguns dos valores mais propagados pela apresentadora Carla Cecato, da Record, em sua vida. Na questão pessoal, um susto na gravidez de seu atual filho que despertou em si um lado mais humano e proativo. E, no profissional, a novidade foi voltar a cobrir esportes nos Jogos Pan-Americanos. "É um desafio, estou apaixonada por tudo que estou vivenciando", resumiu.

A âncora do matinal Fala Brasil apresenta da Vila Pan-Americana dos atletas, em Toronto, o programa que nestas semanas tem muito mais enfoque esportivo pela atual cobertura. Com carreira baseada no noticiário voltado mais para política e cultura, tem agora pela primeira vez a missão de ancorar uma cobertura esportiva depois das experiências em reportagem nos Jogos de Pequim, em 2008, e como produtora no Sportv, há mais de uma década. A responsabilidade como âncora na TV detentora dos direitos do Pan deu frio na barriga e rendeu muito estudo. Diz estar adorando e ter se redescoberto. E as experiências lhe dão novos toques de despertar.

"Achei bacana essa oportunidade, um desafio, nunca tinha ancorado esporte ao vivo. Estou apaixonada pelo trabalho e por quem faz esporte. Acredito muito no dom e nas especialidades. Estou fazendo pós-graduação em política e acho que o pessoal da cobertura esportiva merece muito respeito", falou, para depois citar as lições tiradas na cobertura.

"Estou encantada com a força de vontade dos atletas e a vida dura que eles têm. Vi um cara da canoagem que mora em uma casa de madeira. Aí o cara vem aqui pra dar uma glória pro país levando uma vida tão difícil. Eu acredito que podemos ter brasileiros melhores. Tenho a honra de fazer boa apresentação porque acredito no esporte. Isso me despertou aqui. Quero estudar ciências politica e contribuir pra ter um Brasil melhor."

Os ensinamentos tirados de situações profissionais são pequenos diante de atitudes que passou a ter depois que da gravidez de seu filho Bruno, hoje com quatro anos. Ela sempre sonhou em ser mãe, e meses antes do nascimento, o bebê foi diagnosticado erroneamente com Síndrome de Down (depois nasceu sem essa condição). Carla, na época, passou então a estudar a síndrome e se informar sobre como os portadores viviam. Tudo que viu a sensibilizou, e mesmo seu filho não tendo Down, passou voluntariamente a se dedicar à causa. É uma das mantenedoras da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente). Diz que conviver com crianças deficientes e sua pureza passou a ser um combustível de energia e lhe fez uma profissional e pessoa muito melhores.

"Eu sempre quis fazer, mas faltava tempo. Eu tinha um colega com Síndrome de Down e via um amor que eles tinham, uma pureza pela maneira como sorriam, sem demandar anda. E passei um susto de gravidez, pelo erro de diagnóstico médico de que meu filho tinha de contribuir. Isso despertou aquela vontade que eu já tinha de contribuir. Mesmo sem ele ter Down, eu vi que tinha trabalho voluntário sério. Fiz teste e desde então passei a ser mantenedora, desde que o Bruno nasceu, ele nasceu perfeito, mas não me tirou vontade de ajudar", explicou.

"Agora é compromisso meu, toda quinta estou na AACD e trabalho com as crianças. É minha maior fonte de riqueza espiritual e emocional. Eu falo que eles não me devem nada, eu que agradeço por estar lá. Eu passei a reclamar muito menos da vida. Eles me dão tanto…nem fazem ideia. Passei a agradecer mais pelas coisas que tenho. Quando a gente se doa, a gente recebe muito. Quando eu dedico aos outros meu tempo e amor, recebo o triplo", continuou.

Caso marcante e sonhos em ajudar

A apresentadora lembra qual foi um dos casos mais marcantes de sua vida na ajuda a criança e que a fizeram rever alguns valores. Coincidentemente, o episódio veio a acontecer em um dia em que passava por problemas pessoais, quase que como uma mensagem.

"Um dia estava indo embora (da AACD) e tinha um rapaz do meu lado. E quando ele virou pra falar comigo, vi que não tinha metade do cérebro. O crânio dele era quase a letra L. Antes eu me impressionava, me emocionava com as coisas. Hoje, só tenho alegria. Levo palhaços, algodão doce pras crianças. Mas nesse dia fiquei comovida. Eu estava triste por um problema pessoal que tive e quando vi aquilo chorei, chorei e pedi perdão a Deus por ter reclamado de algo na vida. Eles (crianças deficientes) te dão uma noção de igualdade, de que todos são iguais e você tem muito a dar. O pouco que você dá ajuda muito eles", contou.

Carla não quer que seu trabalho pare se limite nas ações semanais que faz. Tem sonhos de poder ajudar a todas pessoas que possuem o problema. E também tem ambições de ver um país muito melhor. Diz que não basta ficar sentada comentando, é preciso agir. E é isso que procura fazer.

"Meu objetivo de vida é abrir um orfanato pra crianças com a Síndrome de Down. Vou fazer Isso até o final da minha vida. Vou dar um orfanato pra crianças que não têm essa condição. Me tornei um ser humano com visão mais ampla de mundo, visão de família. A criança agrega muito como um todo", falou.

"Não sou do tipo que reclama e não faz nada. Eu quero ficar no Brasil e ajudar meu país. Como? Sendo boa jornalista, ética, isenta, mostrando dificuldade das pessoas e estudando. Acredito vou fazer pós e estudar em ciências políticas e sendo uma jornalista que sabe mais sobre o nosso pais. Eu estudei em colégio público a vida inteira. Me apaixonei pelo jornalismo na vida pública. O Brasil tem caminhos."

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José Ricardo Leite
Do UOL, em Toronto (CAN)

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