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Repórter da Globo viu morte nos escombros no Nepal: "Nunca vou esquecer"

UOL Esporte

02/06/2015 06h01

Carol Barcellos está acostumada às aventuras mais radicais e a alcançar o seu limite físico seja em uma maratona no Polo Norte, em um mergulho no escuro ou na corrida de 127 km no meio da selva. Mas nada disso se compara à situação mais desafiadora que enfrentou na vida diante do maior terremoto da história do Nepal.

A jornalista da TV Globo passou 18 dias no país asiático cobrindo a tragédia que matou mais de 8600 pessoas e destruiu quase meio milhão de casas nos dois terremotos que atingiram o país em 25 de abril e 12 de maio.

Carol voltou ao Brasil bem no Dia das Mães e pode matar as saudades do marido, o repórter do Sportv Bruno Côrtes, e da filha em um reencontro emocionado. Mas as cenas assustadoras que ela presenciou não vão sair da cabeça e a fizeram refletir sobre a vida.

"A imagem mais forte para mim foi a do pai que 'abençoava' um monte de escombros. A filha dele de quatro anos estava ali embaixo, morta. Nunca vou esquecer", conta. "Mais do que casas, templos e outras construções, muitos perderam pessoas amadas, família. Era muita tristeza!", contou Carol, em entrevista ao UOL Esporte.

carolbaQuando saiu do Brasil em meados de abril, Carol nem imaginava o que estava por vir. Ela e seu parceiro de aventuras Clayton Conservani chegaram ao país três dias antes da tragédia para gravar um episódio da nova temporada do programa Planeta Extremo.

Quando sentiram o primeiro tremor, a jornalista e a equipe da atração global estavam na estrada em direção à Região Oeste do país para fazer uma gravação. Eles foram informados pelo produtor nepalês que os acompanhava que a situação em Kathmandu era grave. Foi aí que decidiram voltar à capital e começar a cobertura do episódio.

Carol cumpriu seu trabalho como jornalista, mas não deixou de se envolver com o que estava acontecendo. Na cena mais marcante da cobertura, veiculada inúmeras vezes pela TV Globo, um novo tremor acontece enquanto ela realiza uma entrevista. Carol mostra todo o seu desespero.

"Foi bem forte. Foi a primeira vez que senti um terremoto. A gente não consegue saber onde está o risco. Porque ele está em todos os lados. Parece que o chão vai abrir… Que o teto vai cair… Que nós vamos cair".

Além de lidar com o medo, ela ainda enfrentou uma situação de recursos limitados. Faltava energia no país e era constante a preocupação com o racionamento de água e com o risco de contaminação por doenças. Nem o sono era respeitado. Os hotéis proibiram os hóspedes de irem para os quartos porque havia riscos de desabamento. Foi praticamente impossível dormir por quatro noites.

A comunicação com o Brasil também era muito complicada, e Carol conseguiu falar com a família poucas vezes. A pequena Julia, de três anos, foi poupada pelos pais e não soube dos reais riscos que a mãe corria.

"A comunicação era muito difícil. Quando conseguia mandar mensagens pro Bruno, me preocupava em avisar que eu estava bem e pedia notícias da nossa filha. A Julia é muito pequena! Por isso, não contamos a ela o que aconteceu. Era uma forma de protegê-la. No futuro, na hora certa, vou contar tudo a ela!", disse.

Apesar dos momentos difíceis que passou nos 18 dias, ela também viveu momentos emocionantes e bonitos. Em uma tragédia, o lado humano pode se sobressair. A solidariedade e a união das pessoas falam mais alto para juntar os casos e recomeçar.

Carol levará um grande aprendizado da experiência e acredita que a experiência a mudará para sempre. "Foi muito difícil deixar uma cidade completamente destruída, tão diferente da que conhecemos quando chegamos ao Nepal. Fizemos amigos. E me encantei com o país! Principalmente com o povo. Quero e vou voltar um dia! Quando voltamos para o Brasil, quando segurei minha filha, tive a sensação que… acho que toda mãe deseja! Me senti capaz de protegê-la de novo!! A gente precisa tocar no filho, ne? Queria ficar ali abraçada a Julia pra sempre. A Julia é a minha vida! E, depois de tudo, só posso agradecer pela saúde dela e por todos os dias em que estamos juntas".

"Aprendi a me preocupar com o que realmente importa: valores morais, família, saúde, cuidar dos outros. E aprendi a nunca desperdiçar um sorriso! Cada momento de alegria é precioso demais!", disse. "Nunca vou esquecer. O que aconteceu, agora, faz parte de mim".

Luiza Oliveira e Leandro Carneiro
Do UOL, em São Paulo

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