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Dan sai do script e emociona Muricy em sua estreia no Bola da Vez, da ESPN

UOL Esporte

26/05/2015 23h33

Informal, abusando do improviso e emocionando o convidado, assim foi a postura de Dan Stulbach no papel de novo apresentador do programa de entrevistas Bola da Vez, da ESPN. "Oi, oi, oi, alô, tudo bem? Tô ouvindo aqui, fala, meu, tá valendo, tamo gravando já", assim abriu o programa, ainda com Muricy Ramalho, o entrevistado em sua estreia, e os entrevistadores, o repórter André Plihal e o gerente de programação do canal, Arnaldo Ribeiro, todos em pé. Fora do script. Com direito a pedir que o treinador chamasse a vinheta de abertura da atração.

Com os seus agora colegas na ESPN, o ator e diretor (e comandante do CQC, da Band) soube conduzir a conversa, abordando assuntos que normalmente o entrevistado não responde: "Beatles ou [Rolling] Stones?", quis saber, logo de cara. "Eu, Stones. Eu sou da época da Rita Lee, cabelo comprido, usava macacão, naquela época tamanco, ia a show, gostava dessas coisas, Titãs, eu sou desse barulho aí", contou o treinador, chegado ao rock'n'roll.

Questionado se o estilo da época lhe causava problema, ele confirmou, mas, rebelde, batia o pé: "no começo, sim. Eu tinha um técnico [o argentino José Poy] que mandava cortar o cabelo toda semana. 'Se não cortar, não treina'. Então não treino. Não aceitava que determinava, que tinha que ser de outra maneira. Era ditadura, então qualquer tipo de comportamento diferente, já te rotulavam, mas como tinha personalidade, não mudava a minha maneira de ser", explicou.

E mesmo com os temas mais "comuns", Dan buscava uma abordagem diferente: "você tava falando dos moleques que ficam pelo caminho e muitos devem estar nos assistindo agora, o que acontece na maioria das vezes para essa galera fracassar e o que você poderia dizer para não fracassar?", questionou Muricy, que respondeu: "eu posso falar porque eu me empolguei, também, só que no meu tempo era muita concorrência, tinha 200, era difícil jogar no São Paulo, mas era focado, buscava café e eu ia com a maior humildade, não é demérito pra ninguém."

Sobre Ganso, Muricy deu a seguinte opinião: "ele teve uma boa fase no Santos, antes da contusão que prejudicou muito ele, e eu insisto muito com ele em algumas coisas, mas às vezes ele tem dificuldade em fazer, porque às vezes foge um pouco às características dele. Entrar na área eu cobrava muito."

Questionado por Dan se Ganso é craque, Muricy respondeu que não. "Ganso é muito bom jogador. Craque é esse caras [Zico, Maradona, Neymar], precisa ir mais para a seleção, tem que fazer várias coisas", disse, argumentando, ainda, que também precisa jogar bem por mais tempo para ser chamado de craque. Nesse momento, criticou avaliações positivas prematuras da imprensa esportiva sobre atletas. Ao contrário de Ganso, Lucas Lima, do Santos, mereceu elogios mais animados do ex-técnico do Tricolor: "jogador moderno é esse. Pra mim, esse é o número 10 do Brasil hoje", avaliou.

A informalidade foi o tom da conversa por quase toda a entrevista. Em determinado momento, Dan virou-se para Muricy e avisou: "vou te dar um alívio dos assuntos chatos para você ver mais um amigo, vem aí mais um 'Fogo Amigo'". Tata, auxiliar e amigo de Muricy, apareceu em depoimento gravado. O quadro foi ao ar, antes, com participação de Serginho Chulapa.

No fim da atração, Muricy Ramalho emocionou-se após longa e profunda pergunta de Stulbach: "você teve um problema de saúde e aqui ao seu redor aqui onde a gente tá celebrando a sua trajetória, passagem pelo futebol, trocando uma ideia, vendo sua história, eu imagino que num período difícil de problema de saúde a gente repense a vida toda, o que é bom, ruim, o que valeu a pena ou não. Olhando essas fotos, vendo a sua passagem, você chegou onde imaginou chegar, você tem orgulho dessa sua caminhada, mudaria alguma coisa?

"Muito legal essa sua pergunta. Essa vida aí veio [pausa, olhos marejados], desculpa, é difícil falar. Quando eu fiquei num lugar que não conhecia, a UTI, momento duro, porque futebol é bom, mas faz mal pra saúde, então nesse momento, quando tive problema de arritmia, ali é um lugar fechado, não tem janela nem nada, tudo cheio de fio e ali repensei toda a minha vida. O que tô fazendo aqui, não criei meus filhos, não convivo com minha esposa, pessoa que eu mais gosto, não tenho amigos, porque você vive no futebol", começou a sua fala.

A gente está 34 anos juntos e conversamos todos os dias [ele e a mulher]. Lá atrás, falei: eu vou chegar na Seleção Brasileira, vou ser um técnico diferente, demorei, passei por vários técnicos, fiz vários cursos e eu cheguei, porque fui convidado. Fui técnico da Seleção por três horas. Ganhei muitos títulos e nunca saindo do que eu penso da minha vida. No Brasil, é muito difícil ser correto. Comigo, é linha reta, meu pai me ensinou e tenho um baita orgulho", finalizou, satisfeito com o que fez na vida.

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