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O tiro de um PM. Milton Neves e uma traumatizante cena no Cidade Alerta

UOL Esporte

14/05/2015 06h00

"Pode parecer arrogante, mas, sendo em língua portuguesa, eu apresento qualquer tipo de programa no rádio e na televisão". A frase é de Milton Neves, que durante sua passagem pela Record mostrou porque considera que pode comandar qualquer atração. Poucos se lembram, mas em 2003 ele comandou o Cidade Alerta, substituindo José Luiz Datena, por cerca de seis meses no vespertino policial.

Milton define em poucas palavras o programa: "o negócio era pesado pra burro". E realmente ele teve de lidar com pelo menos uma situação complicada no ar. Em uma de suas edições, o Cidade Alerta noticiou a morte de um policial militar à frente do Palácio dos Bandeirantes. O detalhe é que a equipe da emissora tinha a filmagem do exato momento em que Reinaldo Antonio Domingues atirou em sua própria cabeça.

Milton Neves com Percival de Souza e o diretor Luiz Gonzaga Mineiro

Milton Neves com Percival de Souza e o diretor Luiz Gonzaga Mineiro (Arquivo/Terceiro Tempo)

"O que leva um homem a apontar uma arma contra a própria cabeça?", questionou o apresentador. O programa foi baseado nesta reportagem, com diversas chamadas para ela.

"Meu negócio no Cidade Alerta era ler TP (teleprompter) e chamar matéria. E nessa edição chamei essa matéria. Tem vários jeitos de se editar uma matéria dessa e nesse editaram errado. Na hora da edição, botaram com tiro e tudo", conta Milton Neves – depois, outras versões das imagens suprimiram o momento do tiro.

Passar todo o drama a cena de um suicídio em um programa vespertino gerou críticas. À época, o diretor Luiz Gonzaga Mineiro afirmou à revista Época que "O que foi ao ar é de minha responsabilidade." Mas alegou: "Não mostramos nenhuma das cenas mais violentas. Exibimos imagens de um policial que fazia denúncias contra sua corporação."

"Na época me criticaram, chamaram de sensacionalista. Mas não tive culpa nenhuma. Pela minha expressão facial deu para ver como condenei aquilo", afirmou Milton Neves. "Lembro até da expressão do policial… Foi traumatizante."

Convite inusitado

A entrada de Milton Neves no Cidade Alerta foi inusitada. O apresentador conta que passava o Carnaval em sua fazenda em Guaxupé (MG), curtindo piscina e churrasco, quando um helicóptero da Record surgiu sem avisar. Dele, desceram dois bispos e um diretor, que numa conversa explicaram que queriam Milton no lugar de Datena à frente do Cidade Alerta, já que o então titular da vaga foi para a Bandeirantes.

"Eu pensei: 'mas caramba, estou bem no esporte'. Eles fizeram uma proposta de X. Depois do carnaval, na quarta-feira, foram ao meu camarim e fizeram uma oferta do triplo do valor e eu aceitei. Foi uma loucura, mas maravilhoso", relembra o apresentador.

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(Arquivo/Terceiro Tempo)

Milton ficou sete anos na Record. Em 2003, viveu o auge da sua exposição, para o bem e para o mal. Enquanto fazia o Cidade Alerta de segunda a sábado, também apresentava o Terceiro Tempo e, uma vez por semana, o Debate Bola. E ainda tinha um game show às quintas-feiras, o Roleta Russa (leia mais abaixo).

Apesar da confiança e do sucesso dos projetos nos números do Ibope, Milton admite que a rotina era estafante e que o estresse prejudicou seu desempenho no Cidade Alerta.

"O que aconteceu foi que eu tinha que fazer Debate Bola, Terceiro Tempo, a gravação do Roleta russa durava três, quatro horas e ainda o Cidade Alerta. Meu forte é o improviso, mas estava estressado e me limitando a ler TP. Não estava criativo naquilo", diz ele.

"Chegou um momento em que eu estava sentindo que não ia pra frente aquilo. Eu tinha boa relação, como ainda hoje tenho, e disse que não era a minha praia. Mas que queria indicar um cara. Indiquei o Marcelo Rezende, sem conhecer ele", relata Milton. Rezende até hoje é referência neste tipo de programa.

Outro detalhe durante a passagem pelo Cidade Alerta é que Milton queria um repórter em especial para trabalhar ao seu lado: Marcio Canuto. No entanto, a Globo aumentou o salário do espalhafatoso jornalista e o manteve em seu quadro – na vaga que se queria dar a ele, entrou Percival de Souza, até hoje na atração.

Roleta Russa

Também fora do esporte, o Roleta Russa foi um game show apresentado por Milton Neves por 14 meses. Ele concorria às quintas-feiras à noite com o Show do Milhão, de Silvio Santos – e, segundo Milton, deixou de ser exibido justamente por ser derrotado pelo Roleta Russa.

Milene Domingues cai no buraco do programa Roleta Russa (Arquivo/Terceiro Tempo)

Milene Domingues cai no buraco do programa Roleta Russa (Arquivo/Terceiro Tempo)

O programa era de perguntas e respostas e ficou famoso porque o perdedor caia por um buraco no palco. Milton era abordado na rua, já que o tal buraco virou folclórico; todos queriam saber o que tinha embaixo, onde os competidores caíam.

Apesar de seguro, Ronnie Von quebrou o pé ao cair numa disputa. Em outra ocasião, Milton pagou um mico. Viviane Araújo acabou caindo. Depois de perderem, os participantes permaneciam em uma sala, em que havia TV com vídeo e áudio da gravação, inclusive nos intervalos.

"Depois que ela caiu, eu comentei com o produtor como ela era bonita. E fiquei falando: 'que mulher gostosa, quase pulei lá dentro'", descreve ele. "E todo mundo naquela sala, a Viviane e um monte de gente da produção assistindo isso (risos)."

Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo

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