Topo

"Padrão Globo" na NBA faz Sportv explicar até ordem dos times em placar

UOL Esporte

25/02/2015 06h00

Quando a parceria entre o SporTV e NBA foi anunciada, muito basqueteiro torceu o nariz. Temiam a pasteurização do basquete norte-americano, simplificado pelo "padrão Globo de qualidade". Na noite de terça-feira (24), o Dallas Mavericks bateu o Toronto Raptors na primeira transmissão desse acordo. E quem assistiu ao jogo inaugural viu as qualidades e defeitos que a emissora carioca imprime em todos os eventos que apoia.

Estavam lá o didatismo exagerado (até a ordem dos times no placar ao pé da tela foi explicada), a restrição aos patrocinadores (o American Airlines Center, ginásio do Dallas Mavercks, foi chamado de Arena de Dallas) e um ator global convidado para comentar a partida… Mas apareceram, também, uma pré-produção caprichada (a repórter Karin Duarte entrou ao vivo até mesmo do vestiário do Toronto), um narrador que conhecia o assunto (Roby Porto era narrador da ESPN, na era pré-ESPN Brasil) e um convidado bem informado.

 

nba2

Explicar cada detalhe do jogo. Até ordem do placar…
No Brasil, três canais brasileiros já transmitiam a NBA (ESPN, Space e Sports+, da Sky). Quem quiser, pode acompanhar partidas diariamente. Isso quer dizer que muita gente entendia o que representavava a chegada do SporTV a esse cenário. Mesmo assim, o canal resolveu tratar sua nova atração como novidade total. E isso significa didatismo extremo. Em uma hora de pré-jogo, quem assistiu aprendeu como os times são separados em seis divisões e duas conferências, como funciona a classificação para os playoffs, quais são os times mais vencedores da liga – incluindo uma lembrança sobre os Lakers, que nasceram em Mineápolis – e quem são os principais atletas da liga hoje em dia.

Quando o jogo começou, essa característica se acentuou. No primeiro minuto de jogo, o narrador Roby Porto lembrou que o basquete internacional não usa mais a bola ao alto, que a NBA usa décimos de segundos no relógio de posse de bola a partir dos 4s9 e que na NBA os quartos têm 12 minutos, e não 10, como nos jogos Fiba.

Até mesmo a ordem dos times no placar exibido no pé da tela, gerado pela própria NBA, recebeu atenção: "Algumas das peculiaridades da NBA. Nos EUA, se acostumou a falar que o Toronto joga em Dallas, Toronto at Dallas. Por isso, aí na tela, você vê o Toronto primeiro, apesar de o jogo ser em Dallas".

Ao longo da transmissão, várias peculiaridades da NBA eram explicadas. Cores dos uniformes (time da casa joga com cores claras), cestas contra (computadas para o capitão rival na Fiba, mas para o jogador que participa do lance na NBA), tempo pedido pelo jogador em quadra (na NBA, quem tem a posse de bola pode parar o jogo)… "É sempre bom pontuar as diferenças do basquete internacional para a NBA", pontuava Roby.

American Airlines Center vira Arena do Dallas
Essa era uma verdadeira barbada: se a emissora já chamava o Allianz Parque de Arena Palmeiras, era difícil imaginar que algo mudaria em relação aos naming rights dos ginásios americanos. Com isso, em suas entradas ao vivo, a repórter Karin Duarte chamou o local do jogo, o American Airlines Center, de Arena de Dallas.

Olhando os nomes das demais arenas da liga, só dois não representarão problemas: o Madison Square Garden (o mais famoso ginásio dos EUA), do New York Knicks, e o Palace of Auburn Hills, do Detroit Pistons. Todos os outros possuem nomes de empresas. Destes, o mais icônico é o Staples Center, de Los Angeles – imitando a Globo, para quem não sabe, Staples é uma rede de lojas de material para escritório…

AP

Nada de "amigo internauta" ou narração em inglês
Quem acompanha NBA nas outras emissoras está acostumado com a interação com o público. O famoso amigo internauta. Narradores e comentaristas leem mensagens, respondem perguntas e divulgam hashtags nas transmissões. O SporTV não fez nada disso. Mesmo assim, o público chegou a colocar o #NBAnoSportv nos trending topics do Brasil durante o primeiro quarto – sem encontrar respaldo na transmissão, porém, temas como o Big Brother Brasil acabaram superando a NBA. Os internautas também sentiram falta de uma opção comum na concorrência que não estava disponível no SporTV: as narrações em inglês.

Como ponto positivo, o narrador Roby Porto e sua equipe de produção mostraram que estavam atentos às notícias da liga. Durante o quarto período, o Chicago Bulls anunciou que o armador Derick Rose teria de operar o joelho pela terceira vez. A notícia foi dada no ar imediatamente.

O ator global convidado que sabia do que estava falando

Convidar uma celebridade para comentar eventos esportivos é um clichê da Globo. Mas, desta vez, deu muito certo. Quem apareceu no SporTV foi Jorge de Sá, filho de Sandra de Sá. E ele realmente sabia do que estava falando. Fã de basquete, ele conhecia os destaques de cada time e as características dos principais jogadores da liga. Poderia ter sido mais utilizado: durante a partida, só os comentaristas oficiais do canal, Byra Bello e o ex-árbitro Carlos Renato, foram acionados.

Divulgação

Entrevista ao vivo até do vestiário
A pré-produção sempre foi uma característica marcante dos produtos Globo/SporTV. Não foi diferente com a NBA. Correspondente do canal dos EUA, Karin Duarte fez várias entradas ao vivo de Dallas, incluindo do vestiário. Ela entrevistou o brasileiro Lucas Bebê, jogador do Toronto, que não foi relacionado para a partida, mas explicou como era a rotina dos jogadores antes de cada partida. E teve uma conversa engraçada com o armador venezuelano Greivis Vasquez, que disse estar à procura de uma namorada brasileira.

Roby Porto estava à vontade com a NBA (mas citou a ESPN)
No começo dos anos 2000, a ESPN ainda não tinha uma emissora brasileira. Mas transmitia a NBA para o Brasil em português. Roby Porto era o narrador daquela época. Além disso, também chegou a narrar transmissões para o site Globoesporte.com. Experiência para narrar a liga, portanto, não faltava.

A única derrapada aconteceu pouco antes do início da partida. Durante o pré-jogo, o narrador acabou se confundindo ao falar sobre a transmissão do Jogo das Estrelas, que fez para o site da emissora em parceria com a NBA.com: "Nós fizemos o Jogos das Estrelas pelo ESPN.com. Ou melhor, para o NBA.com". Mas nada que atrapalhasse o andamento da partida.

Bruno Doro
Do UOL, em São Paulo

Sobre o Blog

A TV exibe e debate o esporte. Aqui, o UOL Esporte discute a TV: programas esportivos, transmissões, mesas-redondas, narradores, apresentadores e comentaristas são o assunto.