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Ex-vendedor de café cresce na Band na onda de Milton Neves

UOL Esporte

19/02/2015 06h01

Héverton Guimarães, definitivamente, não é um cara tímido. Ele já apareceu ao vivo na TV vestido de rei com direito a capa e coroa, já fez o estúdio se parecer com uma pizzaria e um açougue ao levar uma pizza e um peixe congelado para provocar um time adversário. Já dançou ao ritmo de Anita a Menudos no ar e até arrancou o retrovisor de uma moto para comprovar a superioridade de uma equipe na tabela.

Todos os recursos são válidos para divertir o público. Foi com essas ideias que 'o povão adora' que o apresentador fã de Milton Neves ganhou espaço e popularidade em uma rápida ascensão na TV Bandeirantes.

O jornalista, que até recentemente era vendedor de café em Divinópolis, no interior de Minas, viu sua vida mudar. Hoje, ele apresenta a edição mineira do Donos da Bola e virou comentarista fixo do programa Jogo Aberto ao lado de nomes como Renata Fan e Denílson.

Todos os dias seu desafio é inventar uma nova forma divertida de chamar a atenção no tradicional debate da hora do almoço. Nada de analisar escalações, destrinchar esquemas táticos ou devorar estatísticas. Isso ele deixa para os sites e blogs esportivos ou para a os programas da TV fechada. Na aberta, a regra é clara: divertir.

"A gente sabe para quem faz televisão, a gente não faz pra ensinar o que é 4-4-2, 3-5-2, lateral entrando pela direita, volantes que avançam, fulano que entra enfiado. O povão não quer isso, ele gosta daquilo que a gente faz. A gente chegou à conclusão que aquilo que era a ideia. Não temos a pretensão de ensinar, ninguém tem a pretensão de ser técnico, de ser o Muricy, o Tite ou o Levir. E isso se transformou numa resenha de boteco, numa roda de amigos, num bate papo sobre futebol".

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No Jogo Aberto, Héverton entra diariamente de Belo Horizonte com a missão de comentar e defender os times de Minas Gerais. A recente boa fase de Cruzeiro e Atlético-MG se tornou um bom trampolim para exercer seu hobby de provocar os times paulistas. Hoje, ele já opina sobre todos os times e também fala sobre assuntos sérios.

Sua referência é o diretor-adjunto da Band Marcelo Campos. "Ele é meu termômetro. Eu falo que estou pensando em entrar com uma pizza, ele diz: 'sensacional, pode colocar porque vai ser legal'. Um dia o Bragantino venceu o São Paulo e eu falei que como Bragança Paulista é a terra da linguiça, iria levar linguiça. Ele disse: 'muito legal'. Eu tenho as ideias e ele é o que me orienta, me fomenta e me diz se pode ser aplicado ou não. Tem dia que ele fala: 'hoje não é dia, o programa está com uma pegada mais séria'".

Na apresentação do Donos da Bola em Minas, Héverton conta que tem seus momentos de Neto, que é o responsável pela edição de São Paulo do programa, mas sua grande inspiração é Milton Neves.

"Desde quando entrei no rádio, apontei para o Milton, queria ser igual a ele. Só que ele tem a cabeça grande e eu tenho a barriga grande", brinca. "Mas eu copio o Milton descaradamente, eu já disse isso a ele e não tenho o menor pudor, sou admirador mesmo. Isso acontece na forma de trabalhar, no jeito provocador de agitar, de não deixar morto o debate. Tem que ser sempre quente, ele é um mestre em programas de debate".

Héverton hoje realiza um sonho que era distante até 2012. Na época, ele ainda morava em uma chácara na cidade interiorana de Divinópolis, a 106 km de Belo Horizonte, onde vendeu café até 2009.

"Era uma vida tranquila, eu vivia com a minha esposa e a minha filha em um rancho, tinha meus seis cães, meia dúzia de calopsitas, 2350 mil sapos, pererecas, passarinhos. Eu era vendedor de uma fábrica de café, a empresa me fornecia uma caminhonete, eu enchia a pick-up e saía vendendo em armazém, sorveteria, ia para todo lado, eu mesmo entregava tudo. E fazia tudo isso ouvindo à rádio Bandeirantes, que eu era fã. Hoje eu divido o microfone com esses caras. Um sonho que virou realidade".

O emprego era conciliado com a função de repórter na rádio Minas. Até que um dia ele percebeu que só cresceria na profissão se a dedicação fosse exclusiva. A partir dali, largou o café e deu um salto. Passou a narrar, apresentar programas locais e gravar comerciais até ser convidado para se mudar para Belo Horizonte para trabalhar na rádio Bradesco Esportes (que faz parte do grupo Bandeirantes). Ainda teve uma passagem como narrador pela Bandnews, mas logo assumiu o Golasô, programa da TV antecessor ao Donos da Bola.

A entrada no Jogo Aberto foi em 2013, curiosamente quando se viu diante de uma grande polêmica. Na ocasião, o Atlético-MG disputaria as oitavas de final da Libertadores contra o São Paulo, e o comentarista Paulo Roberto Martins, o Morsa, chamou o time mineiro de cavalo paraguaio.

A declaração deu uma grande repercussão negativa em Minas Gerais, e a equipe de reportagem da emissora chegou a ser hostilizada por torcedores atleticanos na capital mineira. Héverton então entrou no ar no Jogo Aberto com um direito de resposta. A aparição fez sucesso e ele nunca mais saiu.

Hoje, ele considera que o programa é um sucesso por causa do entrosamento da equipe. "A Renata é a pessoa mais extraordinária do mundo, extremamente preparada, estuda diariamente, tem a equipe na mão dela, tem um coração enorme, além de bonita e inteligente. É a Oprah Winfrey do esporte na TV brasileira. Cada um é de um jeito, tem o seu estilo. O Ulisses é louco, o Denilson é brincalhão, o Ronaldo é corintiano e o Chico Garcia faz o estilo galã. As peças foram encaixadas, é a melhor meia hora do dia".

Com o sucesso, Héverton já recebeu propostas de outras emissoras, mas sonho é mesmo um dia trabalhar na Band de São Paulo. Ele chegou a sentir o gostinho quando foi convidado para narrar 11 jogos da Copa do Mundo pelo Bandsports e viu um outro sonho se realizar.

"Na Copa do Mundo fiquei 40 dias em São Paulo, viajei para vários Estados, trabalhando ao lado de grande figuras como Pedrinho, Velloso e a Renata. Foi uma experiência excepcional. Tenho a ideia, como qualquer profissional das sucursais, de ir para São Paulo. É o centro de tudo, centro financeiro, o dinheiro corre em São Paulo. Tenho esse sonho, mas não posso colocar na cabeça deles que devem me levar, as empresas estão enxugando gastos. Pode ser que um dia aconteça".

Luiza Oliveira
Do UOL, em São Paulo

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