Narrador foi vítima de crise econômica mundial. Hoje espalha o caos na ESPN

Rômulo Mendonça é hoje figurinha carimbada nas transmissões de esportes americanos na ESPN, assumiu o posto de narrador número 2 da emissora em jogos da NFL e espalha o caos sempre que vai ao ar. Não à toa se autointitula o "Mensageiro do Caos", bordão que tornou famoso em suas narrações cheias de trocadilhos e várias pitadas de humor.

Mas o caminho de Rômulo para se consolidar na ESPN não foi fácil. No começo de 2009, inclusive, foi dispensado pela emissora semanas depois de fazer um teste para narrador e ser aprovado. A crise econômica mundial obrigou a direção do canal a congelar todas as vagas e sua contratação acabou cancelada.

"Fiz um teste no fim de 2008 e fui aprovado. Voltei para Belo Horizonte, onde morava na época, para começar a ver a questão da minha mudança para São Paulo. Mas me ligaram falando que a contratação tinha sido cancelada por causa de problemas financeiros. Foi a época que a crise mundial atingiu todo mundo em cheio", relembra Rômulo, que é natural de Divinópolis (MG), se formou em jornalismo na PUC de Minas Gerais e passou por diversas rádios de seu estado, trabalhando como narrador, comentarista, repórter e plantonista, sempre em transmissões de futebol.

A frustração por ter tido sua contratação vetada no início de 2009 não tirou o ânimo de Rômulo e seu desejo de trabalhar na ESPN. Em janeiro de 2011, ele fez um novo teste e mais uma vez foi aprovado. Desta vez, não houve contratempos. Em fevereiro, fez a sua estreia no canal narrando uma partida de rúgbi internacional.

"Fiquei me preparando bastante, pois se surgisse uma nova oportunidade para fazer um teste, precisaria demonstrar conhecimento em outros esportes que não o futebol. Então, entre 2009 e 2010 fiquei acompanhando outras modalidades e estudando. Narrador de futebol existem muitos. Sabia que se fosse só por este caminho, minha chance seeria 50 negativo. Fui aprovado neste teste em 2011, fiz minha primeira transmissão em fevereiro e fui ganhando meu espaço aos pouquinhos", diz Rômulo, que só faria sua estreia no futebol americano em setembro, em partida de pré-temporada.

Aos poucos, Rômulo também foi se soltando em suas narrações e incluindo bordões e trocadilhos que hoje são suas marcas registradas, como "mensageiro do caos", "Tinder do apocalipse", "umba, umba, umba ê", "e ela disse adeus", entre outros.

"Me preparo muito para fazer as narrações. Talvez as pessoas não percebam, mas dou muitas informações e números nas minhas transmissões que acaba parecendo um congresso do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Mas o humor acaba prevalecendo. Isso muitas vezes gera reações de amor e ódio nas pessoas. Por sorte, o amor está dando de goleada", afirmou o narrador de 32 anos.

Mas de onde vem a criatividade para a criação de tantos bordões que conseguem envolver o telespectador na transmissão e torná-la de fato um entretenimento?

"Tento fazer com que toda transmissão minha tenha algo diferente. Um só bordão que acaba consolidado acaba ficando repetitivo. Então, gosto muito de brincar com a atulidade e coisas que ficam marcadas na memória das pessoas. Quando teve a invasão à reitoria da PUC (no fim de 2012), várias vezes que marcavam um touchdown eu dizia que haviam invadido a reitoria. Hoje, falo bastante do Tinder do apocalipse quando existe um sack (o jogador de defesa derruba o quarterback), pois é um aplicativo bastante usado pelas pessoas", diz.

Apesar de fazer muitas transmissões de esportes americanos, Rômulo diz que ser um dos principais narradores do canal em partidas de futebol é seu objetivo. Mas enquanto este momento não chega, ele curte o atual status, sempre com muita irreverência.

"Claro que penso em fazer futebol, mas tenho muita gratidão ao futebol americano porque é o que me dá mais chances de criar, é o esporte que dá mais visibilidade e audiência. Mas o esporte que mais gosto de assistir é o basquete. Sou nostálgico da NBA", diz Rômulo, que viverá uma experiência diferente no próximo dia 1º. Ele narrará o Super Bowl para exibição em salas de cinemas de todo o país.

"Nunca transmiti nada em cinema na minha vida, mas acho que vai ser muito legal. Fiquei surpreso em ter esta oportunidade. Minha dupla com o (Paulo) Mancha nos comentários funciona superbem. É um grande amigo e será meu padrinho de casamento".

Por Fábio Aleixo
Do UOL, em São Paulo