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Alberto Bial vira "poeta" na TV e sonha com final ao lado de Galvão Bueno

UOL Esporte

26/09/2014 06h00

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"Sou um apaixonado pela vida. Cada por do sol, cada cesta bonita, cada ação de um atleta me leva a ser um admirador da poesia. Sou um poeta da vida, não um poeta das palavras".

A frase é de Alberto Bial, irmão de Pedro Bial, técnico do do Basquete Cearense (equipe que disputa o NBB) e comentarista do SporTV. As palavras refletem seu espírito nas transmissões do canal por assinatura.

Bial tem se tornado uma atração à parte nos comentários. Durante o Mundial de Basquete da Espanha mais uma vez despertou amor e ódio nos fãs da modalidade por sua empolgação e estilo irreverente.

"Depois de anos de psicanálise e trabalho, não me preocupo com o que os outros pensam. Tomo cuidado imenso para falar as coisas. Coloco o que o coração está falando", afirmou.

Os comentários de Bial, no momento, estão restritos aos assinantes do SporTV. Mas no que depender de seu desejo, em 2016 estarão na Rede Globo. Ao UOL Esporte, o técnico disse que seu sonho é comentar a final olímpica do basquete ao lado de Galvão Bueno.

"O Galvão seria o narrador perfeito para eu fazer uma final de Olimpíada. Claro que gostaria de estar de técnico na Seleção Brasileira, mas o (Rubén) Magnano está aí (risos)", afirmou.

Bial não é funcionário fixo do SporTV. É freelancer contratado para eventos específicos transmitidos pelo canal.  Dedicar-se exclusivamente à função de comentarista ainda não faz parte de seus planos a curto prazo.

"Eu não crio expectativas em relação à vida. Vai haver um momento em que não tereis mais saúde para ser técnico. No Brasil, não nos dedicamos apenas aos treinos e jogos. Somos captadores de recurso, gestor, psicólogo. Muitas vezes somos tratados sem respeito nenhum. Trabalho  como técnico há 44 anos. Adoro televisão, então enquanto puder conciliar as duas coisas, vou conciliar. No futuro estarei fazendo televisão", disse Bial, de 62 anos.

UOL Esporte: Como e quando foi a sua primeira experiência como comentarista?
Alberto Bial: Em 1995, quando teve o Pré-Olímpico de Mar del Plata (ARG), o Manduca, que é filho do Armando Nogueira e era diretor dos canais Globosat, me convidou para ser comentarista. Fiz o Pan todo e gostaram muito do meu trabalho. Fizeram um convite para eu ficar como comentarista fixo, mas sempre quis ser técnico, então não aceitei. Eu indiquei o Byra Bello para o cargo. Mas depois vieram outros eventos e sempre me chamaram para comentar. Fiz o Mundial Feminino de Basquete de 2006, a Olimpíada de 2008, tendo o basquete como carro chefe. Faz 20 anos que estou nessa.

UOL Esporte: E de onde vem tanta empolgação?
Alberto Bial: Eu adoro televisão. Consumo muita televisão desde a década de 50. A empolgação vem da mistura de televisão com meus conhecimentos de basquete. É motivo de muita satisfação, não tem como não ficar motivado. Sinto o mesmo prazer quando estou comandando um treino, dirigindo a equipe em um jogo ou comentando. Me divirto e tenho muito prazer e adrenalina.

UOL Esporte: Com tanta empolgação assim, nunca deixou escapar um palavrão?
Alberto Bial: Na televisão nunca saiu,  mas tem de se cuidar mesmo. Você está levando conhecimento às pessoas. A maioria do pessoal que vê basquete na TV não é  da comunidade do basquete. São pessoas leigas. É preciso ter cuidado para ser didático e pedagogo, não cometer erros de português, cacófatos.

UOL Esporte: Você faz alguma preparação especial antes de comentar um jogo ou torneio?
Alberto Bial: Não adianta apenas conhecer o esporte, cada jogo tem suas particularidades, são jogadores diferentes. Você tem de estudar. Por exemplo, neste último Mundial, esta equipe dos EUA foi a melhor que já vi na minha vida, nunca vi equipe tão perfeita. Eu acompanho NBA, mas não sei tudo de cor e salteado. Fui a fundo na carreira do Anthony Davis, do  Kyrie Irving. Tenho algumas limitações, mas dentro delas tento fazer uma transmissão que esclareça e seja agradável. Gosto de conversar com quem está do outro lado da tela. A transmissão precisa ser prazerosa para mim e para o telespectador.

UOL Esporte: Você se inspira ou se inspirou em algum comentarista?
Alberto Bial: Não tem ninguém específico, é algo totalmente intuitivo. Mas quando vou aos Estados Unidos observo o estilo dos comentaristas, que são muito utilizados nas transmissões. Mas não copio, nem me inspiro. Tenho-os apenas como uma referência bacana.

UOL Esporte: E este lado poeta que todo mundo fala de você. O que mais pode dizer?
Alberto Bial: Quando estou nas transmissões, o que falo sai do coração, estou fazendo algo que ama. Na TV, abro meu coração, escuto meu corpo, alongo o meu cérebro e minha mente para estar ali de corpo e alma. Sei o poder da televisão.  Não tenho meddo de errar. Tenho prazer de fazer o que conheço e gosto, difundindo o basquete no dia a dia.

UOL Esporte: Como é a sua relação pessoal e profissional com o seu irmão, o Pedro Bial?
Alberto Bial: Sempre acompanhei a vida dele toda. Mas, em termos profissionais, falamos muito pouco. No passado, trocávamos muita ideia sobre televisão com ele. Hoje em dia, nossa conversa é voltada para a família, para o futebol. Falamos bastante também sobre o Fluminense.

UOL Esporte: O fato de ser irmão do Pedro Bial abriu as portas para você na televisão?
Alberto Bial: Todo mundo acha que abriu portas, mas eu acho que não. Consegui isso através da minha maneira de ser, minha maneira de atuar. Por ser irmão dele e andarmos juntos, acabo conhecendo pessoas do meio. Mas eu não estaria sendo leal comigo se pensasse que cheguei onde cheguei por causa dele. Esta foi uma bengala que nunca usei. Nunca pedi nada a ele.

UOL Esporte: Gostaria de trabalhar junto com ele, quem sabe fazerem um programa de basquete?
Alberto Bial: Já falei com ele sobre isso, adoraria ter esta oportunidade. Para mim, seria molezinha ter o Pedro como contraponto. Eu já pensei que seria legal termos um programa, mas o Pedro chegou a um patamar tão grande, que não sei se caberia em um canal fechado. Em 2005, trabalhamos juntos na Globo. Fizemos quatro jogos das seleções masculina e feminina. O Pedro me deixava na bandeja, foi o momento mais legal.

UOL Esporte:  Dos narradores com os quais você teve oportunidade de trabalhar, qual mais gostou?
Alberto Bial: O Luiz Carlos Júnior é um cara diferenciado. Acho ele um monstro. Comecei a fazer basquete com ele. É um supercraque. Com o Odinei Ribeiro também me dou muito bem. Gostei muito de trabalhar com o João Palomino na ESPN e com o João Guilherme na Fox Sports.

UOL Esporte: E além do Galvão, que você já citou, existe outro narrador com o qual gostaria de trabalhar?
Alberto Bial: É uma pena que o Luciano do Valle já foi embora, era um cara excepcional, muito importante para o esporte.

UOL Esporte: Você treina uma equipe brasileira, o Basquete Cearense. Você se sente confortável comentando jogos de equipes brasileiras em competições continentais?
Alberto Bial: Por exemplo, se vai jogar Flamengo e Boca Juniors não tem problema algum. Falar mal não é comentário. O que sim me preocupo é fazer comentários antes e durante o jogo. Depois da obra feita, é muito  feio ficar falando. Este é um grande problema dos comentaristas brasileiros.

UOL Esporte: Você gosta bastante de ver futebol, mas já pensou em comentar? Tem esta vontade?
Alberto Bial:  Tenho sim e já tive uma vez esta oportunidade. Quando o Fluminense estava na Terceira Divisão do Brasileiro, comentei um jogo contra o Dom Pedro na Rádio Globo. O pessoal adorou. Me sentiria muito confortável em fazer novamente. Acompanho futebol desde os seis anos de idade.

Fábio Aleixo
Do UOL, em São Paulo

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