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Comentaristas de arbitragem são unânimes: culpa de polêmicas é da Fifa

UOL Esporte

25/09/2014 18h48

Eles divergem sobre decisões e em muitas situações têm interpretações diferentes para um mesmo lance, mas em um ponto os comentaristas de arbitragem da TV brasileira são unânimes: a culpa pelas polêmicas recentes no futebol nacional é da Fifa. Segundo os ex-juízes, o comportamento da entidade internacional é responsável pela enorme e crescente lista de episódios discutíveis, sobretudo em bolas que batem na mão de defensores.

No Campeonato Brasileiro, por exemplo, quase 40% dos pênaltis marcados até a 22ª rodada foram "polêmicos", segundo levantamento do UOL Esporte. Foram 43 infrações anotadas até aquele estágio da competição, e 16 delas aconteceram em lances discutíveis.

Outro levantamento feito pela "ESPN" apontou que depois da Copa de 2014 houve acréscimo de 150% no número de pênaltis no Campeonato Brasileiro. Um dos motivos para isso é uma nova determinação da Fifa sobre bolas que batem na mão. Em busca de diminuir a subjetividade desses lances, a entidade pediu que árbitros apitassem sempre que houvesse toque em movimentos "antinaturais".

"O grande problema aí é o antinatural. A palavra que apareceu nas orientações da Fifa é antinatural", disse Rodrigo Braghetto, comentarista de arbitragem do canal aberto Bandeirantes. "Meu vizinho disse que os jogadores precisam cortar a unha. Se raspar na unha vai ser pênalti. Isso está gerando muita polêmica aqui no Brasil", completou.

Sérgio Corrêa da Silva, presidente da comissão nacional de arbitragem, chegou a dizer ao jornal "Folha de S.Paulo" que as críticas às decisões dos juízes brasileiros são "sacanagem": "Não é a CBF que cria as regras; seguimos as determinações".

No dia 24 de setembro, porém, o chefe de arbitragem da Fifa, Massimo Busacca, foi menos incisivo ao falar sobre bola na mão. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", ele pediu que árbitros sejam mais analíticos.

"A mão faz parte do jogador. Não há como pensar em um jogador sem mãos. Não se pode dar falta a qualquer toque na mão. Isso é um absurdo. Um jogador precisa da mão e do braço para correr, para se equilibrar e para saltar. O juiz não pode pensar só como juiz e apenas aplicar o que está escrito. Um juiz precisa se colocar no lugar do jogador e entender um movimento", declarou Busacca.

"Se for assim, os espanhóis também estão mal orientados porque tivemos um lance absurdo no jogo do Real Madrid. Vale lembrar que na Copa do Mundo a arbitragem não foi um primor; Muito pelo contrário, foi um desastre", respondeu Arnaldo Cezar Coelho, comentarista de arbitragem da TV Globo, também a "O Estado de S. Paulo".

Depois das declarações de Busacca, Marco Polo del Nero, presidente eleito da CBF, defendeu Sérgio Corrêa da Silva. O dirigente, que atualmente comanda a FPF (Federação Paulista de Futebol), afirmou que há "vídeos e provas" sobre as determinações da Fifa.

"A Fifa tem de assumir o que faz e o que falou perante seus instrutores. Existe um vídeo com 26 situações que ela inclusive proibiu de ser exibido. A CBF queria exibir para o público e mostrar que os árbitros receberam a orientação, mas a Fifa não permitiu. Na Espanha, tivemos um lance dentro desse modelo. No Campeonato Português, um jogador estava com o braço aberto quando a bola bateu em seu peito, e o juiz deu pênalti. Na Libertadores também ocorreu algo semelhante. Isso não acontece só no Brasil", comparou Leonardo Gaciba, comentarista de arbitragem da TV Globo.

Salvio Spinola, comentarista de arbitragem do canal fechado ESPN, usou dois exemplos da última quarta-feira (24) para explicar. Ele considerou errada a marcação do segundo pênalti para o São Paulo no empate por 2 a 2 com o Flamengo (Rogério Ceni errou a cobrança), mas identificou acerto do árbitro Ricardo Marques num lance de Figueirense 1 x 0 Corinthians (a bola bateu na mão do corintiano Danilo dentro da área, mas o juiz ignorou).

"Não tem instrução para o árbitro marcar esse tipo de mão. O jogador do Flamengo escorrega, perde o tempo da bola, e a bola vai de encontro ao braço. Não é pelo fato de o braço estar aberto que a falta deve ser marcada. Foi um erro grotesco da arbitragem", avaliou Salvio sobre o primeiro caso. "A bola empurra o braço do Danilo. Não é o Danilo que vai de encontro à bola. O braço do Danilo vai para trás depois do choque com a bola, e isso é uma referência para a arbitragem. É o que a gente chama de mão boba. Aí é distinguir a orientação do erro", adicionou ele sobre o segundo episódio.

Carlos Eugênio Simon, comentarista do canal fechado "Fox Sports", usou como exemplo outro lance: um pênalti para o Flamengo em vitória por 1 a 0 sobre o Corinthians – a cobrança foi desperdiçada por Eduardo da Silva.

"Na vitória do Flamengo sobre o Corinthians [1 a 0], o bom árbitro Sandro Meira Ricci cometeu um erro absurdo ao marcar um pênalti para a equipe rubro-negra. Everton chutou forte próximo ao adversário Fagner, e a bola bateu no braço do lateral do Corinthians. O braço dele estava sobre o abdome, e o árbitro errou ao apontar a marca. Cito esse lance porque aconteceu com um dos principais árbitros da atualidade, que recentemente teve bom desempenho na Copa do Mundo, para mostrar que alguns árbitros estão se acomodando e marcam pênaltis alegando essa orientação", ponderou o analista.

Arnaldo Cezar Coelho chegou a pedir que jogadores e técnicos parem de falar da arbitragem e que deixem de usar juízes como subterfúgios. Na última quarta-feira (24), ele foi criticado diretamente por Vanderlei Luxemburgo, técnico do Flamengo.

"Eu queria falar uma coisa aqui, e eu vou falar o nome da pessoa. É meu amigo, meu amigo pessoal de muitos e muitos anos, e eu quero ver o comentário do Arnaldo agora. Ele tem 40 pontos de audiência para falar que o Flamengo vem sendo favorecido com uma sequência de erros de arbitragem. Quero ver o comentário do Arnaldo porque pegar 40 pontos de audiência e falar que o Flamengo vem sendo favorecido é complicado. O cara tem de ter uma coerência nisso aí. Os erros não são favorecimento a ninguém. Os erros estão acontecendo pela qualidade da arbitragem, e não por estar premeditado. O Flamengo teve benefício de penalidade a favor, mas também teve contra. Isso precisa estar claro. O que tem de ter é muita calma. Eu estou chateado, muito chateado, mas que fique claro: isento o São Paulo de qualquer situação sobre arbitragem. O São Paulo só jogou futebol", finalizou o comandante rubro-negro.

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