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Narrador mexicano ironiza jeito brasileiro de torcer: “parece uma novela”

UOL Esporte

02/07/2014 06h00

Mexicano
Se você acha que o experiente Silvio Luiz ou o global Milton Leite são irônicos na narração, deve dar uma olhada em uma narrador mexicano antes para aí sim ver o que é sátira e humor negro em uma partida de futebol ao vivo na TV. Ele é o jovem Christian Martinoli, 38 anos, da TV Azteca, considerada a segunda mais importante do México.

A emissora tem linha em seu país parecida com a Band no Brasil, com transmissões mais divertidas e que fogem do padrão mais sério (a Televisa, a maior, é similar à Globo).  Christian costuma ficar excitado nos gols e em alguns momentos é até filmado como um louco que parece que está passando mal. Grita, levanta e mexe as cadeiras com caras e bocas.

Esculhamba quando os atletas erram e costuma pedir até que façam filhos com ele quando vê um gol muito bonito. É amado e odiado em seu país. "Sou sarcástico e gosto do humor negro. Desmitifico o jogador de futebol. Tenho respeito por ele e não tenho respeito ao mesmo tempo. Pra mim não são super heróis. Tem gente que odeia o que faço e não me pode ver, mas há outros que gostam", disse, em entrevista ao UOL Esporte.

Difícil é explicar o que quer dizer com "faz um filho comigo" quando vê um lance genial. "Tenho duas filhas, e uma das coisas mais legais que se pode ter na vida é ter filhos. Dizer é isso, é que o melhor que fez foi tão bom o que você fez, que alegrou tanto meu dia por uma boa jogada e quero tanto você como isso. É um jogo de palavras que algumas pessoas não gostam, e outras se divertem. Quero tirar a pressão do jogo pras pessoas se divertirem. É um entretenimento", falou.

Quando questionado sobre como vê nas narrações e comentários brasileiros na TV, o mexicano se estendeu e falou sobre a cultura do torcedor em si do país pentacampeão mundial de ser muito exigente e crítico com a seleção pelos inúmeros craques que já atuaram com a camisa amarela. Entende que há um exagero na falta de paciência com a seleção.

"No Brasil (os narradores) são muito mais sérios no geral.  Os programas têm mais análises. As pessoas no México amam a seleção, mas não gostam muito de tática e análises mais profundas. No canal que trabalho as pessoas querem mais entretenimento e sentir que pertencem ao jogo e à seleção. No Brasil muita análise, no Brasil não gostam de perder muito, porque não estão acostumados a perder. O Brasil perde pouco e quando está a ponto de perder, as pessoas parecem que estão em uma novela da Globo, chorando, rezando, porque não acreditam naquilo. O brasileiro fica louco quando perde e me divirto com isso", afirmou.

Com o jeitão debochado e ao mesmo tempo em que fala seriamente, Christian lembrou os craques brasileiros do passado e fez uma ironia com alguns atletas da atual geração brasileira.

"O que passa é que você tem que ser brasileiro pra entender. Tiveram Pelé, Rivellino, Zico…Zico não ganhou um Mundial! Zico é um Deus e não ganhou Copa. Vocês tiveram Romário, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldo, e hoje têm Hulk e Fred. É uma diferença abismal. Vocês têm um parâmetro de comparação muito duro", declarou.

"Comparam Daniel Alves e Marcelo com Cafu e Branco. Tem caras que a maioria do mundo diz que são grandes jogadores, e aqui no Brasil falam que não gostam. Daniel Alves? Ganhou tudo no Barcelona. Não é um morto de qualquer equipe. Fred, por exemplo, foi bem na França. Mas não é Ronaldo".

O Brasil sempre teve deuses, e hoje tem mortais. Neymar não é Zico, Ronaldinho, Romário ou Pelé. Por isso os brasileiros são críticos e não gostam de perder. Porque sempre ganharam com grandes figuras. E analisam mais os defeitos do que as qualidades", finalizou.

José Ricardo Leite
Do UOL, em Fortaleza (CE)

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