Joel: "Tem comentarista que fala bonito, mas não entende de futebol"
Crédito da imagem: Mauricio Stycer/UOL
Sem emprego no futebol há mais de um ano, Joel Santana tem se virado bem em outros ramos. Virou garoto-propaganda de uma marca de shampoo, participou da campanha publicitária de uma empresa de telefonia, gravou participação especial na série "Vai que Cola", do Multishow, e agora desempenha como comentarista esportivo do SBT.
No embalo da Copa do Mundo, "Papai Joel" tem gravado comentários para três telejornais da emissora de Silvio Santos. No futuro, sonha em ser contratado para ser comentarista esportivo fixo ou participar de algum programa do gênero. Mas só depois de 14 de julho. "Até a final da Copa, sou exclusivo do SBT. Será que o Silvio não me contrata depois?", ele pergunta, daquele jeitão bem-humorado que todos conhecem.
Joel já apareceu no "Programa do Ratinho" e já deu entrevista para Marilia Gabriela. Para completar o circuito no SBT, falta um encontro com o patrão. "Vou gravar com o Silvio. Sou fã dele. Sucesso a gente não discute. Manter o sucesso há 50 anos… o cara é mágico."
O técnico se diz feliz da vida no novo trabalho, como comentarista. "Tô achando bom pra caramba. Falo do que eu sei. Fui jogador por 20 anos. Sou técnico há mais de 20. Falo sobre futebol desde que me entendo por gente. ".
Na sua visão, há comentaristas demais no mercado, mas poucos que entedem, de fato, do riscado. "Eu vejo cada coisa. Eles não entendem de futebol. Eles falam bonito, mas não é coisa com coisa. No dia do jogo do Brasil, ouvi um dizer: 'A seleção precisa diminuir os espaços e jogar um pouco mais na frente.' Isso não quer dizer nada."
Papai Joel ensina o que é preciso para ser um bom comentarista: "Tenho o meu olhar, com base na minha experiência. Tenho que ser simples e objetivo, com a maior sinceridade possível. Procuro corrigir a minha postura, a minha maneira de falar, e dizer o que o povo gosta de ouvir."
Joel está magoado com comentários que ouviu dando conta de que estaria "ultrapassado" como treinador. "Só no Brasil, quando você está experiente, dizem que você está ultrapassado. Já viu uma palestra minha? Um treinamento? Um trabalho?", pergunta.
Sobre a seleção brasileira, o novo comentarista se diz otimista, mas não gostou do que viu na partida contra o México. "Se o bolo ficou ruim, não posso falar que ficou bom. Se ficou bom, não posso falar que ficou ruim", filosofa. "Sem o Hulk, Felipão colocou o Ramires. Não funcionou. Com Bernard, a seleção melhorou. Porque está mais acostumado a jogar de um jeito…"
E acrescenta: "Quando um jogador joga mal, dez cobrem. Quando dois jogadores jogam mal, nove cobrem. Quando três jogam mal, já começa a ficar ruim. Quando quatro não estão bem, aí não tem jeito…"
Quando a conversa de Joel com o UOL Esporte já passava de 30 minutos, o técnico observou: "Você vai ganhar um aumento depois dessa matéria. Aí a gente half-half", disse, sugerindo que eu deveria dividir com ele o que eu ganhasse a mais.
Depois desse comentário, a conversa foi para o filão que Joel descobriu: ganhar dinheiro com a fama de que fala mal inglês: "O brasileiro é muito crítico. Às vezes, crítico do mal", diz, lembando que a fatídica entrevista que deu em inglês na África do Sul, em 2009, foi um acidente.
Joel era treinador da seleção local. "Os sul-africanos tinham me pedido para falar inglês, mesmo que mal. Diziam que era melhor do que ter intérprete. Mas naquele dia, o cara me pegou de jeito."
Depois que aquela entrevista se tornou um sucesso na internet, a vida do treinador mudou. Além das campanhas publicitárias, conta, já recebeu vários convites para estudar inglês de graça. "Mas ainda não tive tempo", desconversa. Pretende estudar algum dia? "Maybe (talvez)", ele responde, em bom inglês.
Mauricio Stycer
Do UOL, no Rio
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