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Comentarista usa bom humor como arma e vira destaque na "nova ESPN"

UOL Esporte

30/03/2014 06h00

Por Patrick Mesquita

Do UOL, em São Paulo

"Amanhã é a minha folga. Só me avisar o horário porque acho que vou fazer amor". É assim, de forma pra lá de bem humorada, que Alexandre Oliveira começa contato com o repórter do UOL Esporte para uma entrevista. Coisa de quem está de bem com a vida, rindo à toa. E não é para menos. Nos últimos três anos, poucos rostos ganharam tanto espaço na mídia quanto o comentarista da ESPN.

Dono de um vocabulário recheado de gírias, como o já famoso "consagra, pai?", fã de um bom churrasco e de samba, Alê Oliveira é o mais conhecido e talvez único "comentarista-moleque" da televisão brasileira. Foram justamente essas habilidades que o credenciaram a peça importante no novo momento vivido pelo canal fechado, que abre espaço para uma programação mais leve e divertida. Prova disso é como ele deixou as transmissões de menor porte para ser titular absoluto em programas como o tradicional "Fora de Jogo", "Bate-Bola" e do nonsense "Fala Sério".

"Eu não tenho pretensão de ser humorista, não tenho competência para isso. A única coisa que eu faço é falar de futebol com alegria. Você está pedindo para entrar na casa das pessoas, você tem que está minimamente simpático e alegre. Sou do dia a dia, sei lidar com o público. Se alguém faz cara feia não significa que ele sabe mais do que aquele que está sorrindo", conta o comentarista em um papo descontraído.

Não é exagero dizer que o auge de Alê Oliveira veio em abril de 2013, com a criação do "Fala Sério". Ao lado do narrador Rômulo Mendonça, o comentarista faz análises completamente inusitadas sobre os fatos que acontecem ao longo da semana nas mais variadas modalidades. O programa, exclusivo do site da ESPN, rapidamente caiu no gosto do público e se tornou o mais visto na plataforma, superando até mesmo o "Antunadas", apresentado por Paulo Antunes.

"O Gian Oddi, que comanda o site ESPN.com.br, ficava entusiasmado com as brincadeiras que fazíamos no intervalo. O diretor falava: 'vamos falar do Português'. Eu respondia: 'Benfica 2 x 1 Bem, por favor, vá embora'. No começo o Gian queria que fizéssemos um programa para relatar coisas engraçadas só do canal. Aí poderia ser que alguém não gostasse das brincadeiras. Pensei em abrir mais o leque, para esportes americanos e sugeri o Rômulo, que é o narrador mais criativo que temos. Surgiu assim, no intervalo dos programas", conta Alê, que não esconde a felicidade pelo sucesso não apenas atração, mas também da terceira edição do "Bate-Bola", que conta com Rodrigo Rodrigues, Paulo Calçade, Gian Oddi e Sorín.

"Fico feliz e realizado porque na verdade estou em um canal mais sério. Quando vem elogios desses para mim vale mais que gol. Ia dizer que é mais do que dinheiro, mas seria mentira", brinca.

Só não se engane ao achar que Alê veste um personagem quando está no ar. Quem trabalha ao lado do comentarista garante que ele é exatamente a mesma pessoa na maior parte do tempo.

"Está muito longe de ser um personagem. Ele brinca com todo mundo na redação, às vezes até extrapola. Está sempre brincando. Ele é muito rápido para pensar em piadas. É exatamente a mesma pessoa na frente das câmeras. Até brincamos dizendo que o Alê comentando com essa forma mais alegre é mais próximo dele como pessoa do que ele tentando falar sério", afirma Gian Oddi, editor-chefe do site da ESPN.

Mas nem sempre a brincadeira agrada a todos e recentemente Alê Oliveira foi duramente criticado pelo atacante Hulk, da seleção brasileira.  Em um dos quadros do "Fala Sério", onde o comentarista faz paródias de músicas e sempre satiriza atletas, ele criou uma versão para a música "É bom para o moral", da Rita Cadilac, ironizando o tamanho do bumbum do jogador do Zenit. A situação não agradou nem um pouco o atacante.

"Ali não estou dando opinião de comentarista, o programa é diferente. É tentar analisar o que aconteceu na semana, mais partindo para o humor, não tem conteúdo. Tem que achar uma brincadeira. Fiz uma com o Hulk falando que ele tem a bunda grande, que era sobrenatural. Se o cara entrega isso para o assessor sem o contexto não dá. O programa é para isso. Ele ficou bravo, não conseguiu entender e chegou a falar mal de mim para alguns amigos em comum. É um risco, muita gente não separa", analisa.

Ousadia e alegria: nasce o comentarista-moleque

Para chegar ao papel de destaque que possui hoje, Alê Oliveira teve que ter muita paciência e persistência. O convite veio no ano 2000, apenas para analisar jogos de futsal. Com o passar do tempo, ele assumiu os comentários de partidas da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Só depois veio a chance com o futebol internacional, espécie de "prato principal" da emissora.

O estilo mais leve e descontraído foi sendo moldado ao longo da carreira. Irritado com o próprio desempenho, o analista passou a agir de forma diferente dos comentaristas mais conhecidos da casa.

"Quando eu entrei para fazer futebol, eu sempre me espelhei nos principais comentaristas da casa, que possuem um perfil de estatística, história, números. Se você pegar quase todos têm o perfil sério e eu me espelhava. Para ser sincero, um dia vi uma das minhas transmissões e pensei que era a coisa mais chata do mundo. Tentei fazer o que eu faço no meu dia a dia", analisa.

Foi então que nasceu o "comentarista-moleque". Mais solto, Alê começou a implementar sacadas irônicas e divertidas em suas análises. Assim, uma série de "Ajax x Pinho Sol", "Benfica x Bem, por favor, vai embora" se destacou nos programas da ESPN.

"Com o João Palomino (diretor de jornalismo) e o Arnaldo Ribeiro (gerente de programação) o espaço veio. Baseados em número de ibope, da resposta da torcida, eles me deram uma sequência maior. O espaço aconteceu de forma natural. O perfil do canal mudou", afirma Alê.

Agora mais seguro no time, o analista sentencia que não vai mudar o seu estilo alegre mesmo que o preço a ser pago seja alto. No entanto, isso não significa que ele não pensa bem antes de fazer uma brincadeira.

"Hoje em dia eu vivo do jornalista esportivo. Minha filha, mãe e esposa dependem disso. Tenho que me adequar conforme a música. O que eu não faço mais é violentar minha característica. Mesmo no futebol internacional, não vou deixar de ser alegre. Mas me adequo ao programa. Essa nova postura do canal ajuda, tenho essa consciência. Repercute bem, alimenta de alguma forma o canal, mas se você errar a mão… Hoje em dia é difícil você fazer brincadeira na TV, porque não pode falar nada. Não pode falar de negão, de gordo, de homossexual. É uma linha tênue. Fico com o alerta ligado o tempo todo para não dar escorregão", calcula.

Técnico prodígio e vocalista de samba

Atualmente com 41 anos, Alê Oliveira nasceu em São Paulo e trilhou um caminho completamente diferente da maioria dos grandes nomes da ESPN. Em busca do típico sonho brasileiro de ser jogador de futebol, ele atuou até o juvenil do Palmeiras. No entanto, foi no futsal que o hoje analista encontrou sua paixão. Com uma autodenominada juventude "movimentada", o agora analista passou por Palmeiras, São Paulo e Ribeirão Pires como atleta profissional. Ao mesmo tempo, teve que compartilhar a carreira com a função de treinador da Fundação Getúlio Vargas, cargo que exerce desde os 18 anos. Além disso, ainda havia tempo para estudar educação física e cantar em um grupo de samba.

"Quando eu jogava bola, eu tinha um grupo de samba: o Beira de calçada. Se juntar o fato de jogar bola, educação física e um grupo de samba, não era possível. Era uma juventude bem movimentada. Mas as situações se cruzam e não combinam. Atleta profissional e do samba não dá", conta.

A carreira profissional chegou ao fim em 1999 e talvez tudo ficasse mais calmo. No entanto, rapidamente veio o convite da ESPN e Alê teve que se desdobrar novamente em diversas funções. Hoje, ele sai do canal e corre para treinar sua equipe de futsal, mas só quando não há nenhuma transmissão ou programa.

De bem com a vida, o analista esportivo parece não se arrepender de nada em sua trajetória, nem mesmo do fato de não ser formado em jornalismo ou estudado exaustivamente o futebol internacional, perfil básico da emissora.

"Essa experiência de atleta e treinador me enriqueceu como pessoa. Foi fundamental para formar o cara que sou hoje. Se eu não tivesse feito isso, tivesse parado de treinar para estudar, para acompanhar futebol internacional, como muitos fazem, certamente eu não seria do jeito que sou hoje. Não sou jornalista, não tenho essa bagagem. Para mim, ter vivido isso foi enriquecedor. Por isso eu estou aqui", analisa.

Tristeza mesmo, talvez apenas a de não ter tanto tempo para desfrutar o futebol e um bom churrasco ao som de Arlindo Cruz ou Leci Brandão.

"Adoro futebol. Prefiro jogar a assistir. Samba, churrasco. Eu mais adoro do que consigo desfrutar. Mas se juntar, futebol, samba e churrasco… aí dá jogo."

 

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