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Chefe Palomino recusa se escalar na narração e rasga elogios a Trajano

UOL Esporte

20/01/2014 10h10

João Palomino está nos canais ESPN desde a criação da filial brasileira em 1995, mas somente a partir de 1997 que ele passou a se dedicar de forma integral ao esporte. Natural da cidade de Taquaritinga, no interior paulista, ele deixou de exercer as funções de narrador e apresentador em janeiro de 2012 para se tornar Diretor de Jornalismo no lugar de José Trajano, a quem rasgou diversos elogios.

No bate papo com o UOL Esporte, Palomino admitiu que não se lembra o dia em que narrou uma partida pela última vez e disse que nunca se escalaria para voltar a narrar somente jogo importante.

"Várias vezes me coloquei à disposição quando tinham dificuldade na escala para fazer jogos secundários e outros programas, mas a escala foi cumprida. O que não faria em hipótese alguma é me escalar. Isso não vou fazer, nunca fiz, não tenho essa pretensão. Hoje existe um grupo grande de narradores e apresentadores que esperam as melhores oportunidades".

Confira a entrevista na íntegra:

UOL Esporte: Você é um narrador que virou chefe. Imaginava chegar nesse patamar?
João Palomino: Nunca planejei muito a minha vida. Na verdade, nunca imaginei que seria narrador. O convite apareceu numa hora que podia. Estava cansado de ser repórter, fui durante 10 anos repórter de politica e economia na Manchete, Cultura e SBT. Estava bem cansado, queria mudar. A ida para esportes foi uma volta para origem. Na verdade, comecei aos 15 anos em esporte, no interior de São Paulo. Nunca tive pretensão de ser narrador ou apresentador. Sempre adorei o rádio, achei que fosse me dar bem lá. As coisas foram acontecendo. Vou mais viabilizando as oportunidades. O Trajano fez um convite para trabalhar na ESPN sem sair da Cultura. Um ano depois, só fiquei na ESPN. Achei que era momento de fazer mudança, estava com 30 anos, muito jovem ainda. O próprio jornalismo esportivo vivia uma situação diferente. Resolvi mudar no começo para apresentar programa na ESPN, aí as oportunidades foram surgindo, comecei a narrar aqui quando não tinha experiência nenhuma. Acredito que tenha conseguido crescer com o tempo, depois fazer muita coisa na narração e na apresentação. Depois veio o convite para coordenar a rádio, e logo em seguida a direção da TV. Nada disso foi planejado. Tenho um prazer tão grande de trabalhar em esportes com a ESPN, que o cargo e a posição são infinitamente menos importantes. O importante é fazer parte daquilo que acredito.

UOL Esporte: Sente saudades na narração? Pensa em voltar ocasionalmente?
Palomino: Sinto saudades, mas hoje a exigência do cargo me tira quase completamente a possibilidade de narrar e apresentar. O que me deixa muito contente é a quantidade de mensagens que recebo via Twitter, email e abordagem na rua. Tem gente que me pede sempre para voltar a narrar, isso me deixa bem feliz mesmo, bem orgulhoso de ter deixado marcas na vida profissional. As pessoas reconhecerem o trabalho digno. Fico muito contente de ter esse tipo de abordagem. Tento até criar uma rotina na minha vida profissional que me permita narrar e apresentar, mas as exigências tem me afastado bastante dos programas. Mesmo na equipe, internamente, algumas pessoas pedem para que eu continue narrando. Várias vezes me coloquei à disposição quando tinham dificuldade na escala para fazer jogos secundários e outros programas, mas a escala foi cumprida. O que não faria em hipótese alguma é me escalar. Isso não vou fazer, nunca fiz, não tenho essa pretensão. Hoje existe um grupo grande de narradores e apresentadores que esperam as melhores oportunidades. Me afastei do ar também função disso. As pessoas crescerem. Temos alguns exemplos de profissionais que me deixam orgulhoso pela evolução que tiveram. Seria até chato de certa forma minha parte chegar em um grande evento e dizer: agora dá licença que é comigo. Se tiver que fazer narração, não vai ser no melhor jogo ou melhor programa. Estou sempre para ajudar.

UOL Esporte: Lembra qual foi a última vez que narrou ou apresentou?
Palomino: Fiz alguns Bola da Vez no ano passado. O último jogo que me lembro ter narrado, não sei se foi do Dortmund ou do Real Madrid, mas faz muito tempo, nem sei a ordem. Devo ter narrado dois jogos em 2013. O Dortmund foi uma goleada de 6 a 2… (pensativo). Putz, não sou o PVC não tenho esse adversário de cabeça. Seguramente foi uma goleada pelo Alemão. O jogo que fiz do Madrid foi contra o Getafe. Talvez até o Cristiano Ronaldo tenha feito um dos gols.

UOL Esporte: Você é tido como muito mais conciliador do que o Trajano. Concorda? Acha que isso facilitou a adaptação ao novo cargo?
Palomino: Não diria que sou mais conciliador. O Trajano é extremamente conciliador. Isso é uma visão de quem não o conhece. O Trajano é admirável, tem um coração do tamanho do mundo, é uma pessoa a quem devo muito. Tenho carinho, um respeito difícil de dimensionar. É um cara de equipe, defende o time dele com voracidade. Tem opinião forte. Como comentarista tem uma opinião que tem que ser ouvida. Não sou nem mais nem menos conciliador que ele, só tenho uma característica diferente dele de trabalhar com equipe. O Trajano é intenso, é um trator, executor, pensa e bota todo mundo para executar. É admirável isso nele, um cara que defende o time com unhas e dentes. Aprendi com ele, procuro seguir isso que ele trouxe. O que talvez seja diferente é que talvez não tenha essa velocidade que ele tem. Talvez demore mais que ele, mas pode ser as mesmas decisões.

UOL Esporte: Como competir na TV fechada contra as organizações Globo e FOX?
Palomino: Costumo falar sempre uma frase para a equipe nossa aqui: todo acontecimento, seja alguma situação de crise, perda de direitos, ou conquista de direitos de alguma empresa concorrente, a gente tem sempre duas opções: sentar e chorar ou trabalhar. A minha opção é sempre trabalhar. Não sou de reclamar. Tenho verdadeira adoração pelo que faço, paixão pelo jornalismo e jornal esportivo. Procuro seguir o que acredito para que possa passar aos mais jovens. Se existe uma situação de desconfiança, de perda de direitos, de dificuldade, o que tem que fazer é tentar dar a volta por cima. Já aconteceu duas vezes. Pensamos: o que vamos fazer? Vamos por esse caminho, vamos nos comprometer para que possa responder ao mercado. Temos direitos sensacionais, como a Copa do Brasil, o Campeonato Espanhol, o Inglês, a Champions League, a Liga Europa, NFL, NBA, Major League, é evento que não acaba mais. A gente tem trabalhado bem os eventos. Tem uma coisa que nós procuramos fazer é deixar a equipe utilizar a opinião forte que tem, opinião independente, com uma linha editorial que não aceita meia verdade, um jornalismo intenso, de reportagem, história, para colocar as pessoas dentro do evento. Não tenho dúvida em dizer que a NFL é um caso de sucesso. Trabalhamos intensamente para explicar o que é sucesso no esporte. Mesma coisa com os europeus. A aderência aos campeonatos com o conceito de game along the game, não só jogo, mas a preparação na semana anterior e na posterior, são importantes para trabalhar intensamente o produto.

UOL Esporte: Existe preocupação com a audiência? Acaba influenciando o conteúdo de alguma forma?
Palomino: Influencia sim. É algo que a equipe trabalha continuamente, e não apenas número pelo número. É uma peça de teatro. O sujeito vai querer fazer o melhor para que o maior número de pessoas possam assistir, e que consiga captar recursos para a peça. A TV é a mesma coisa. A gente trabalha cada vez mais os números com qualidade, para trazer dinheiro para a empresa, poder reaplicar e desenvolver a empresa no nosso dia a dia. A gente tem trabalhado para que cada vez mais pessoas assistam e acompanhem. Esse é nosso desafio contínuo. Isso que a gente quer: que as pessoas vejam um produto de qualidade e convidem as pessoas a assistir cada vez mais. Queremos o maior número possível de espectadores.

UOL Esporte: Números divulgados recentemente pelo Estado de S. Paulo colocam a Fox na frente da ESPN na audiência. Você concorda ou contesta?
Palomino: Numero real está ai, Mas queria que você repassasse, Guto (assessor de imprensa), os últimos números que nós temos. Bom que essa pergunta foi feita, o Guto pode passar números que mostram que somos vice do mercado de assinatura. Tivemos um início de ano muito bom. O número do sorteio da Copa, que foi em dezembro, nós tivemos, vou citar para você: as pessoas ficaram 1h04 acho que com a gente, quatro minutos com a Fox, 39min com a Sportv. Na Bola de Ouro, nossos números foram muito expressivos também.

Nota da Redação: a assessoria de imprensa divulgou números do Ibope para a reportagem que informam que a ESPN Brasil reassumiu a segunda posição de audiência entre os canais esportivos no último trimestre de 2013. Na comparação do primeiro com o último trimestre do ano passado, a emissora cresceu 22% em audiência; no mesmo período, a Fox Sports caiu 14%.

UOL Esporte: Qual é o trunfo da ESPN em relação ao mercado? Que padrão de jornalismo você acha que sua empresa tem que ter?
Palomino: O jornalismo que a gente precisa manter é esse jornalismo de responsabilidade. Nosso fã de esporte gosta da gente ter opiniao forte e divergente no ar, até entre nós próprios. Aqui tem vários casos de comentaristas que pensam de forma diferente e vão para o ar defender o que acreditam. Nunca falei e não vou falar para não fazerem isso. Não preciso disso, dizer para alguma pessoa o que ela tem que falar. Os nossos profissionais tem que agir com responsabilidade, e nós temos essa confiança neles.

UOL Esporte: Qual você acha que é hoje o maior trunfo da emissora? Ter a Liga dos Campeões ainda é a 'galinha dos ovos de ouro'?
Palomino: Com certeza. É um público cativo. Nós somos reconhecidos por termos a Champions. Apostamos no conhecimento dos nossos comentaristas em relação ao futebol europeu. Queremos colocar isso em destaque na Copa. Vamos estar lado a lado nas seleções desde já com nossos comentaristas.

UOL Esporte: Mas a concorrência pra transmitir a Liga deve ser grande né? Vocês estão agindo pra assegurar a Liga por mais tempo e esfriar o interesse da Fox?
Palomino: A Fox se interessa pelos direitos que não tem, assim como o Sportv, a Bandsports e nós. É difícil dizer algo hoje, tem que ver quais movimentações do mercado que vão acontecer. A gente se prepara, se programa, faz planos de continuar com os direitos e adquirir outros, assim como eles também. Sempre vamos brigar pelos melhores direitos.

UOL Esporte: Depois que a Globo adquiriu a Liga dos Campeões, ficou mais difícil para vocês em termos de audiência?
Palomino: Não, é até bom ter a Champions League na aberta. Mas a Globo não passa todos os jogos, então o telespectador vai buscar os outros com a gente. É importante você ser uma opção. Nesse caso da Globo, somos opção. Mas a Liga nos dá as maiores audiências. A última final teve números espetaculares.

UOL Esporte: Como ficou o mercado de TV fechada em esportes com a entrada da Fox?
Palomino: Temos três canais. Conseguimos com isso um bom leque, para oferecer alternativas em três frentes importantes. Temos conseguido cumprir três frentes fortes. Com a chegada da Fox, a briga ficou intensa. O Sportv tem eventos importantes também. O mercado está se ajustando. Quem ganha é quem tem TV por assinatura.

UOL Esporte: O Flávio Gomes, demitido por você na ESPN, foi para a Fox. Você se arrepende de certa forma ter reforçado um concorrente?
Palomino: Dei umas entrevistas sobre o caso do Flávio. Foi um dos momentos mais tristes da minha administração, mas naquela situação, naquele momento, era inevitável. Já se falou bastante disso. Gosto demais do Flavinho, tenho um enorme respeito por ele, quero mesmo que ele tenha muita sorte, siga a carreira dele. O que aconteceu, aconteceu. Não há muito mais o que falar.

UOL Esporte: Você acha que seu nome ficou muito em evidência como bom gestor por sua atitude nesse episódio?
Palomino: Não esse fato né. Esse fato não forma ninguém como gestor. O que forma é o respeito da equipe, planejamento, trabalho consciente, convicção do resultado. Isso forma um bom gestor.

UOL Esporte: Você falou com ele depois do episódio da demissão? Possuem algum tipo de relação?
Palomino: Falei com ele uma ou duas vezes, depois não falei.

Renan Prates
Do UOL, em São Paulo

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