Argentino Sorín brilha com tom crítico e ‘nerd’ como comentarista no Brasil
O único ex-jogador estrangeiro nas bancadas de TV brasileiras é argentino e não tem medo de fazer críticas ao que se passa no país que mantém a maior rivalidade esportiva com sua nação. Assim pode ser definido o estilo que o ex-lateral Juan Pablo Sorín adota nas transmissões dos canais ESPN.
O status de ídolos nacionais de Ronaldo e Pelé não foi o suficiente para escapar da visão crítica do ex-jogador do Cruzeiro. Quando os brasileiros criticaram as manifestações nas ruas, Sorin rebateu e disse que na Argentina, Maradona apoiaria o povo. "Nenhum dos dois falou do orgulho de seu próprio povo".
Sorin já disse que gostaria de participar da reunião do Bom Senso FC nas críticas à CBF e que sempre se preocupou com questões sociais extracampo, ao contrário dos boleiros brasileiros.
No bate papo que concedeu por telefone ao UOL Esporte Vê TV, Sorín falou sobre a sua aposentadoria, seu estilo como comentarista, sua paixão pelo Brasil e a politização no futebol. Não faltaram elogios ao Bom Senso FC.
"São processos naturais. Assim como foi a Democracia Corintiana, como era o Sócrates. Hoje tem união muito interessante que está surgindo, começando. Tomara que seja a união dos jogadores para sair do conforto, e que eles se unam para defender os direitos para sempre, não para uma causa só. Vai ser muito bom para o futebol".
Sorín faz embaixadinhas em programa de TV e derruba cenário; relembre como foi
Confira a entrevista na íntegra:
UOL Esporte Vê TV: Por que decidiu parar tão cedo em 2009?
Sorín: Achei que tinha feito tudo que queria e que podia. Foi uma lição de vida parar bem, com festa do Cruzeiro. Foi um final feliz para uma carreira feliz
UOL Esporte Vê TV: Você ficou no Brasil depois disso. Por quê? Gostou tanto assim?
Sorín: Decidi com minha família ficar por aqui. Minha filha nasceu aqui em Belo Horizonte. Ela é mineira e argentina. Temos várias coisas aqui no Brasil. Somos agradecidos como nos acolheram. Aqui tínhamos vida social, fizemos amigos, temos família.
Percorremos vários países: Itália, Espanha, França, Alemanha. Foi uma decisão de vida também, quando começamos a vida pós futebol. Acompanho e ajudo no que puder a minha mulher na sua carreira. Nos sentimos felizes aqui no Brasil, sempre voltando e passando um tempo lá na Argentina. Nunca se sabe se vamos voltar né (risos), mas estamos curtindo a vida.
UOL Esporte Vê TV: O que a sua mulher faz?
Sorín: Ela é cantora. Se chama Sol Alac. Já cantou em Paris ano passado. Fez turnê esse ano por capitais do Brasil como São Paulo, Rio, Brasília, Curitiba, e agora está na fase de composição de um novo projeto.
UOL Esporte Vê TV: Você está há mais de um ano na TV como comentarista. Como surgiu o convite da ESPN?
Sorín: Comecei comentando na Copa 2010 pela Globo. Fiz alguns jogos na TV na Argentina. Trabalhei seis meses na TV Alterosa, retransmissora da SBT aqui em BH em um programa diário que tinham o Marques, aquele jogador do Atlético, junto com um jornalista daqui e a partir daí comecei a carreira na televisão. Sou agradecido pela oportunidade, gostei muito de trabalhar, poder comentar, explicar coisas do futebol. O convite da ESPN chegou para comentar o futebol argentino na segunda divisão, pois o River Plate tinha caído. Eles gostaram e agora estou trabalhando lá, fazendo Bate Bola, Futebol no Mundo, comentários sobre varias ligas, um pouco de tudo, além de quadros diferentes no site.
ARGENTINO NO BRASIL
A gente quebra barreiras todo dia quando entra e trabalha num pais que não é o seu
Juan Pablo Sorin, comentarista
UOL Esporte Vê TV: Ficou receoso em aceitar o convite?
Sorín: Trabalhei em rádio. Fiz quatro anos de rádio quando jogava no River. Cursei jornalismo na Argentina. Queria Letras, mas não seria compatível com o futebol. Sempre tive ligação com os meios de comunicação. Busco sempre tentar tirar o melhor, não cair na crítica fácil, no sensacionalismo. Quero mostrar o rico, a beleza desse esporte. Começou assim e estou curtindo.
UOL Esporte Vê TV: Como se preparou para a chance na TV?
Sorín: Na verdade, quando parei de jogar, não sabia para onde ia seguir minha carreira. Quando jogava futebol, gostava de outras coisas. Toda segunda de folga ia na Rádio Argentina. Sempre fiquei ligado em cultura, gosto de programas diferentes, de investigação, pesquisa. Escrevi na revista Média Punta, um projeto muito bacana de ser a primeira revista grátis que entregavam antes de entrar no estádio. Escrevi numa revista na França. Estou curtindo a ESPN, escrevo no jornal Hoje em Dia aqui em BH, escrevia no Estado de Minas. Vou curtindo, fazendo e me preparando para tudo que faço. A gente tem que se preparar.
UOL Esporte Vê TV: Começou com Campeonato Argentino e hoje faz Liga dos Campeões…foi um avanço?
Sorín: Estou agradecido não só pelo espaço que a ESPN vem me dando, mas pelo convívio lá dentro da redação, como eles me acolheram, foi importante, pois aí a gente não se sente estranho, um estrangeiro lá dentro. Acho que foi uma construção juntos. Fiquei conhecendo a casa, sabendo do sistema, da liberdade que tem lá, mas com pautas bem claras. Quero fazer com que seja interessante, sempre ser original, procurar coisas novas e acrescentar desde a experiência como ex-jogador a alguma coisa além.
Sorin ganha até quadro na TV
- Sorin está tão em alta na ESPN que ganhou até um quadro fixo na TV e no site da emissora. O Olhar de Sorin é um quadro onde o ex-jogador comenta lances do futebol brasileiro e mundial que marcaram a semana
UOL Esporte Vê TV: Assim como Roger e Beletti, você parou cedo, virou comentarista e tem sido muito elogiado. Como recebe esses elogios?
Sorín: Com alegria de poder ser comentarista e também cronista, sempre contando com a confiança dos boleiros.
Tento aprender muito com as pessoas que tem tantos anos na profissão, seja narrador ou comentarista. É um desafio que encaro assim. Cada quadro que participo tem a ver com a curiosidade de pesquisar coisas novas.
UOL Esporte Vê TV: O que você tenta passar para o telespectador? Tem tempero argentino no seu estilo?
Sorín: Tem um tempero de estrangeiro que jogou em vários lugares do mundo. A maioria das competições que eu comento eu joguei. Champions, Copa do Mundo, Confederações. Tive privilégio importantíssimo nisso.
UOL Esporte Vê TV: Como é o seu relacionamento com os jogadores? Eles te respeitam?
Sorín: Os jogadores são muito inteligentes, sabe quem está falando no ar. Tenho outro ponto de vista agora, sempre tentando acrescentar alguma coisa. O jogador me conhece. Sou muito bem tratado tanto pelos jogadores atuais, como ex-jogadores e treinadores. Todo mundo se conhece. Tenho as portas abertas não só aqui. Foi muito bom voltar na Espanha, ver o vestiário do Barcelona.
UOL Esporte Vê TV: Um argentino fazendo sucesso aqui na TV… você quebrou barreiras?
Sorín: A gente quebra barreiras todo dia quando entra e trabalha num país que não é o seu. Tem que primeiro estar satisfazendo você mesmo, depois o mundo. Para quebrar barreira, você tem que se preparar, como falamos antes. Tem que falar bem a língua, conhecer, saber a história do futebol, mais do que está acontecendo. Acho um desafio interessante, muito rico. Sou primeiro a querer aprender sempre.
UOL Esporte Vê TV: Tem sido muito elogiado pela crítica por ter um estilo intelectual. Admite ter um estilo "Nerd"?
Sorín: Sou natural (risos). Quando voltei para casa outro dia após uma transmissão da Liga dos Campeões, até comentei que aplaudi como aplaudo quando vejo um jogo em casa. Sou fanático por futebol. Meu estilo vem de me sentir à vontade com que estou fazendo. É legal ter essa possibilidade de ser comunicador, passar as coisas. Tenho experiência por tudo que vi na TV, cinema, teatro. Sou um admirador da arte em geral.
UOL Esporte Vê TV: Tem telespectador que reclama de ser argentino? Como é o seu relacionamento com os torcedores nas ruas?
Sorín: Muito bom, muito bom. É engraçado essa questão. Tem a ver com a rivalidade. Vivi isso todos os dias, vivo sem nenhuma demagogia. Sou argentino, me manifesto. Contato muito bacana, acontece na rua, nas redes sociais. É legal botar um pouco mais de pimenta, mas nunca entrar num ambiente violento e de falta de respeito.
UOL Esporte Vê TV: O que achou da criação do Bom Senso FC? Falta politização aos jogadores brasileiros?
Sorín: Justamente por isso que foi criado o Bom Senso. São processos naturais. Assim como foi a Democracia Corintiana, como era o Sócrates. Hoje tem união muito interessante que está surgindo, começando. Tomara que seja a união dos jogadores para sair do conforto, e que eles se unam para defender os direitos para sempre, não para uma causa só. Vai ser muito bom para o futebol.
Sorin corneta Neymar após derrota: "ainda tem gente querendo comparar com o Messi?"
- A fraca atuação do atacante Neymar na derrota da seleção brasileira por 2 a 0 para o México fez a joia se tornar alvo das críticas de ex-jogadores. Atualmente comentarista, o argentino Sorin cornetou o brasileiro. "Ainda tem gente querendo comparar Neymar com o Messi? Neymar será grande, ninguém duvida que é craque, mas tem que evoluir ainda. Vocês, o que acham?".
José Ricardo Leite e Renan Prates
Do UOL, em São Paulo
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.